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Precisamos falar sobre mulheres que estupram mulheres

Angélica Morango

11/12/2017 04h00

Melanie Martinez, de 22 anos, é uma cantora  americana em ascensão. Apesar de ter se apresentado duas vezes no Brasil, ainda não é popular aqui, ao contrário do que acontece em seu país, onde é idolatrada por mais de 13 milhões de fãs nas redes sociais. E é lá nos Estados Unidos, inclusive, que um número cada vez maior de vítimas de assédio e abuso sexual denuncia seus agressores.

A cantora Timothy Heller acusa a ex-amiga, Melanie, de estuprá-la. O abuso teria acontecido numa noite em 2015, quando, apesar negativas de Heller, Melanie lhe teria feito sexo oral e usado um brinquedo sexual sem seu consentimento.

Entre os motivos para não ter revelado a história antes, Heller disse ter invalidado a experiência por Melanie não ser homem e por imaginar que as pessoas não acreditariam em seu relato. Pelas redes sociais, Melanie rebateu a acusação dizendo que Heller: "nunca disse não para o que escolhíamos fazer juntas". Então outra ex-amiga da cantora, Madeleine Carina, também se manifestou publicamente, dizendo que Melanie é manipuladora e que entre as duas também aconteceu algo parecido e desgastante.

Não é não! E isso vale pra todxs

Há poucos meses uma grande amiga me confidenciou uma história muito parecida com a que acaba de vir à tona. Aconteceu há 10 anos, quando ela tinha 16.  Ela era virgem, convidou uma amiga para dormir em sua casa, e, no meio da noite, a garota, dois anos mais velha, forçou uma relação sexual com penetração com os dedos. Apesar da dor e do trauma, havia um laço de amizade entre elas. Minha amiga falou que no dia seguinte a garota foi gentil, pediu desculpas por ter forçado a barra, e então o envolvimento emocional levou a um namoro, que durou um ano. Na minha cabeça dei o assunto por encerrado. Mas ele não estava.

Se ao invés de praticada por uma mulher, a violência tivesse sido protagonizada por um homem, eu teria identificado imediatamente como estupro. Mas minha visão ficou turva por minha desinformação a respeito do assunto. Até dar de cara com as revelações das amigas de Melanie Martinez e compreender tudo com mais clareza.

A culpa nunca é da vítima

Uma década já se passou e minha amiga não esquece a fatídica noite. Como muitas vítimas, imagina que tem uma parcela de culpa pelo que aconteceu porque permitiu que a garota dormisse em seu quarto, porque estavam se beijando antes… Mas a culpa não é da vítima. A vítima é vítima. Quem não respeita um NÃO, comete uma violência, é um agressor. No caso, uma agressora.

Um laço de amizade não dá a ninguém o direito de um selinho, um beijo na boca, um amasso ou sexo. O que indica o consentimento é o desejo claramente manifestado pela pessoa. Sexo consensual é o oposto de estupro. É estupro, segundo nosso Código Penal, artigo 213: "Constranger (forçar, coagir, obrigar) alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal, a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso". A pena varia de seis a dez anos de prisão.

Violência sexual é violência sexual, independentemente de quem a pratica.

Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!