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Já ouviu falar das "lésbicas tardias"? Você pode ser uma

Universa

09/02/2018 05h00

Encarar a homossexualidade na fase adulta é mais difícil? A reação dos familiares é mais severa? As carreiras profissionais sofrem algum impacto negativo? Reconhecer a própria sexualidade e falar abertamente sobre ela não é um desafio fácil nem na adolescência, muito menos anos depois, já que, ao longo do tempo, são estabelecidos certos padrões de comportamento e vínculos que demandam uma dose extraordinária de coragem para serem rompidos.

Lésbicas tardias

O termo "late-blooming lesbians" (lésbicas tardias, em tradução livre) é usado pela mídia americana há mais de uma década para se referir às mulheres que começaram a viver relações homoafetivas após a maturidade, mas esse "fenômeno" não é novo. No fim da década de 1920, a escritora britânica Virgínia Woolf tinha 40 anos quando se apaixonou pela poetisa e paisagista Vita Sackeville-West, de 30. Ambas tinham maridos e esses sabiam e consentiam com o tórrido relacionamento entre elas, que durou dez anos. O romance, aliás, foi tão marcante na vida e na obra de Virgínia que inspirou o filme "Vita e Virginia", com lançamento mundial previsto para este ano.


Daniela Mercury assumiu o relacionamento com Malu Verçosa, em 2013

No Brasil, há vários exemplos de "late-blooming lesbians" talentosas e bem resolvidas. Aos 47 anos, Daniela Mercury apresentou a então namorada, hoje mulher, Malu Verçosa, em 2013. Fernanda Gentil tinha 29 quando declarou estar apaixonada pela também jornalista Priscila Montandon, em 2016. A atriz Letícia Lima revelou recentemente que ficou com uma mulher pela primeira vez aos 29 anos, e que foi a cantora Ana Carolina, com quem namora há três.

Mudança dos tempos

Em comum, além do carisma que arrebata milhares de fãs nas redes sociais –só no Instagram são seguidas por quase 6 milhões de pessoas–, elas têm histórias que se fundem: todas tiveram relacionamentos heterossexuais ao longo da vida, casaram-se com os respectivos noivos, separaram-se e, já maduras, assumiram publicamente o amor por uma mulher.

O carinho que recebem pelas redes sociais é uma pequena mostra da mudança dos tempos: na novela 'Babilônia', há quase três anos, o público reprovou o par formado pelas atrizes Fernanda Montenegro e Nathália Timberg e o beijo que protagonizaram na trama, mas hoje vibra com as postagens cheias de declarações de amor entre os casais da vida real.


Fernanda Gentil e a namorada, Priscila Montandon

Eleita pela revista "Time" como uma das cem pessoas mais influentes de 2017, a atriz Sarah Paulson, 43, assumiu seu relacionamento com a também atriz Holland Taylor, 75, há quase dois anos e até hoje é inquirida sobre isso. Em uma entrevista recente para a revista "The Edit", Sarah declarou: "Estou com uma pessoa bem mais velha do que eu e as pessoas acham isso totalmente fascinante e estranho. para mim, é a coisa menos interessante sobre mim. Mas eu me sinto um pouco não convencional. Sou uma mulher de uma certa idade que escolheu não ter filhos e que fez da carreira minha prioridade. Sou o capitão do meu próprio navio e nunca procurei ninguém para validar isso ou que me diga que está tudo bem."


Ana Carolina e a namora, Letícia Lima

Mulheres que estão casadas ou em relacionamentos estáveis com homens não são, necessariamente, heterossexuais. Assim como mulheres que namoram ou são casadas com outras podem se identificar como lésbicas ou não. Vita e Virgínia aparentemente eram bissexuais. Sarah Paulson sempre se declarou bissexual. A cantora Ana Carolina já deu diversas entrevistas afirmando ser bissexual.

Entre a hétero e a homossexualidade há uma gama de possibilidades

Alfred Kinsey, considerado o pai da sexologia, desenvolveu, na metade do século passado, estudos que revolucionaram a forma de se pensar sobre a sexualidade, dentre eles a Escala de Kinsey, que vai do nível zero, de extrema heterossexualidade, a seis, de extrema homossexualidade, com níveis de comportamentos fluidos entre essas duas pontas. Eu, por exemplo, por já ter me envolvido com homens, acredito que me enquadraria no nível quatro ou cinco da escala, mas esse tipo de definição teria algum significado prático?! Identificar, rotular e delimitar é possível, mas é preciso?

Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!