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"O caminhão do amor está passando na sua rua, traga a vasilha"

Universa

15/06/2018 04h00

(Foto: Reprodução/site Embalagem Marca)

O caminhão do amor está passando na sua rua. Vai dar tempo de alcançá-lo, mesmo que você ainda esteja de pijama. Você só acordou porque ouviu o caminhão do amor lá na outra esquina. E não está alucinando. Não é o caminhão da laranja, da melancia, do picolé. É o caminhão do amor.

É preciso apanhar rápido o chinelo que sempre se esconde embaixo da cama. O chão está gelado. O caminhão se aproxima. Onde está a carteira? Quanto custa o amor mesmo? Isso não deu pra ouvir bem. E a vasilha? Onde cabe o amor? No balde de pipoca? Numa "tupperware"?

Acordar de supetão deixa a gente meio grogue. O jeito vai ser correr sem chinelos, sem carteira e sem vasilha, e pedir para o motorista do caminhão do amor esperar na porta. Meu Deus! Não deu tempo de escovar os dentes e é impossível abrir a boca com esse hálito dormido!.. Tem uma balinha perdida em cima da mesa, pra disfarçar? Não, não tem. Quando a gente está com pressa tudo some. E só tem um restinho de pasta dental. Espremendo muito, dá pra uma derradeira vez. O último pingo de dentifrício cai na pia.

O caminhão do amor passou e já está uns dois quarteirões à frente, pelo menos. Vale a pena circular por aí desgrenhada? Sempre que coloca os pés fora de casa assim, como quem sai de dentro de uma garrafa, todas as pessoas do mundo põem-se às ruas para testemunhar esse amarroto, é uma lástima.

Olha, acho que não compensa, não. O chinelo que se embrenhou no buraco negro que existe embaixo da cama e suga tudo ao redor foi um sinal. O sumiço da carteira, outro. E se ainda faltava um terceiro, este ficou nítido com o mergulho do resto do creme dental na pia suja.

Acontece que você nunca ouviu falar de um caminhão do amor. Nem sabia que existia, tampouco imaginou um passando pela sua rua. Isso seria um sinal? É melhor correr atrás logo, descalça, levando a primeira coisa de valor que encontrar pela casa e uma vasilhinha de inox? Ou o amor ficaria melhor dentro da panela de pressão?

Há sinais por todos os lados. E são tão díspares que se anulam como sinais e viram apenas detalhes cotidianos a que damos maior ou menor importância. O caminhão pode estar transportando o amor da sua vida ou apenas vendendo umas paçocas.

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Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!