O bafafá do beijo gay de Nego do Borel
De sapatilha bico fino e top cropped, Nego do Borel tasca um beijo na boca de um modelo no clipe de Me Solta. Além do beijo tem uma sarrada, de leve, entre os dois. Ousado? Polêmico? Pró LGBT? Oportunista? Em 24 horas o vídeo teve mais de 4 milhões de visualizações no Youtube e provocou um levante de reacionários tanto do Vale dos Homossexuais quanto dos homofóbicos.
"Um clipe e uma música sem sentido, com beijo gay e ele de trans. Perfeito para aumentar sua fama e dinheiro", postou a internauta Amanda Gabriel.
"O que o cara não faz pra aparecer e ganhar dinheiro, hein?! Já dizia Racionais: 'em troca de um emprego e um cargo bom, tem mano que rebola e usa até batom'", escreveu Natã Marques.
"Só porque ele beijou o cara ele quer atenção? Já cansei de ver meninas beijando outras em clipe e ninguém fala nada. Agora que é um homem estão enchendo o saco! Tenham senso, pelo amor de Deus! Amei o clipe e a música!", rebateu Ana Almeida no Youtube.
Há duas semanas, no dia 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBT, Nego postou uma foto da bandeira do arco-íris em seu Instagram, numa clara reverência à causa. Indo um pouco mais longe, a 2014, há um vídeo em que, travestido como "Nega da Borel" ele manda um "recado para as recalcadas". Foi sua verve cômica, inclusive, que o levou à Malhação. No folhetim da Globo ele interpretou o divertido Cleyton, em 2016.
O bafafá causado por Nego do Borel vestido como a memorável Lacraia (dançarina de Mc Serginho, morta em 2011, por tuberculose) poderia ser comparado ao reboliço provocado por Anitta ao revelar as celulites do próprio bumbum no clipe de Vai Malandra, lançado em dezembro do ano passado? No fundo, sim.
Só que Anitta é mais discreta em seu posicionamento político e pessoal. Até demais. Nego é controverso, quase caricato. Posou sorridente ao lado do pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro, que já foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro a pagar uma multa de R$ 150 mil por declarações homofóbicas e racistas no extinto programa CQC, da Band. Misógino, o político também foi denunciado pelo Ministério Público por incitar publicamente a prática do crime de estupro: ele disse à deputada Maria do Rosário (PT-RS) que não a estupraria porque ela "não merecia, é muito feia".
Simpatizante de Bolsonaro, Nego, que já foi acusado de agressão por duas ex-namoradas, Swellen Sauer e Crislaine Gonçalves, curtiu tuítes que exaltam o político.
O clipe de um cantor heterossexual beijando um homem na boca não tem o poder de dirimir a homofobia; o de um cantor gay também não, mas fomentam o debate.
Não há profundidade na letra "Deixa eu dançar, deixa eu dançar! Deixa eu dançar, deixa eu dançar! Calma aí, sai! Me solta, porra!", tampouco na estética do clipe de Me solta. Até aí, nenhuma novidade: a quase totalidade das composições e dos videoclipes de funk brasileiro são para fruição, que é uma das propostas da arte. A fogueira da polêmica é acesa e abastecida pelo paradoxo entre ser e parecer ser.
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