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Como comprar plantinhas de um jeito diferente: numa bike e sem vendedor

Universa

17/09/2018 04h00

Renato e uma das clientes da bike amarela, Maria (Foto: Reprodução/Instagram)

Na Oscar Freire, rua que tem um dos metros quadrados mais caros da América Latina, uma bicicleta amarela chama a atenção. Ali, entre as lojas mais elegantes de São Paulo, estão expostas plantas decorativas em charmosos vasinhos com preços para todos os bolsos, mas com um detalhe peculiar: diferentemente dos outros pontos de comércio da região, não há vendedor. O próprio cliente escolhe o que quer levar e efetua o pagamento, sem nenhuma supervisão.

A iniciativa, baseada na confiança, já acontece em algumas lojas, supermercados e cafeterias ao redor do mundo, especialmente na Europa. No Brasil, existem apostas nesse sentido, e foi uma delas que inspirou Israel Joaquim de Santana, o "Renato", como ele gosta de ser chamado, que trabalha como manobrista, a fazer o mesmo. "Essa ideia surgiu de uma matéria que eu vi, de uma pessoa lá de Minas Gerais, que tem uma banca de frutas e verduras que fica na estrada. O cliente faz a compra e tem a caixinha de troco e tal. Falei: 'Pô'! Vou implantar isso aí na bike!"

"Quando eu era mais novo e morava com minha mãe e meus irmãos, passamos fome, moramos em casa de barro. A ilustração desse cordel do J. Borges mostra as dificuldades que passamos no sertão do Ceará" (Foto: Reprodução/Instagram)

A charmosa bicicleta, um presente do patrão a Renato, já foi um carrinho de tapioca, mas o primeiro empreendimento não deu certo. "Vendia tapioca lá em Santana, no Carandiru, mas como não tínhamos licença (para funcionamento), tivemos que parar com as atividades. Nisso, deixamos a bike de lado, guardada. Aqui no meu serviço tem uma goiabeira, eu já fazia uns vasinhos e tal, aí meu patrão disse que se eu quisesse usar a goiabeira pra colocar meus materiais pra vender, eu poderia, numa boa. Deu certo, então tive a ideia de tirar da goiabeira e passar pra bike, deixar na rua, espalhar pras pessoas", explica Renato.

Ele gosta de usar o plural para falar de seu trabalho porque não está sozinho na empreitada. Além do incentivo dos patrões, conta com a ajuda da esposa e dos quatro filhos para a confecção dos vasos. "A bike vem pra incrementar o orçamento, que é um pouco difícil. Se não fosse ela e esse negócio que desenvolvi na necessidade, hoje as coisas não seriam as mesmas. Graças a Deus 'tá' tudo caminhando, cada dia ficando melhor", comemora ele, que vende de dois a três vasos por dia, de segunda a quarta, e até sete produtos às quintas e sextas.

"Passo-a-passo" (Foto: Reprodução/Instagram)

Em apenas quatro meses de funcionamento, a "Matos Urbanos" tem conquistado fãs e feito sucesso nas ruas e na internet – só no Instagram já são quase três mil seguidores. Um dos admiradores do trabalho de Renato é o chef de cozinha Alex Atala. "Ele viu e pediu que a gente colocasse a bike no restaurante dele, o Dalva e Dito, e nós colocamos lá todo sábado e domingo. Durante a semana eu fico aqui (na rua Estados Unidos), manobrando os carros dos clientes (de um escritório de Arquitetura e de uma galeria de arte), e a bike fica na Oscar Freire, parada lá, sem ninguém tomando conta, sem nenhuma câmera pra ficar filmando ninguém, ou seja, fica totalmente vulnerável a qualquer pessoa."

No Instagram da "Matos Urbanos", Renato exibe as mensagens de incentivo deixadas pelos clientes (Foto: Reprodução/Instagram)

"Em todos esses meses, um único vasinho sumiu. Só que não sei explicar se foi uma pessoa que levou na má fé. Aqui é uma região que tem bastante idoso, a pessoa pode ter se confundido ao colocar o cartão, não soube digitar corretamente e acabou se perdendo. Fora isso, não teve nenhum tipo de desonestidade", revela ele, que sai de casa todos os dias às 5 horas da manhã e pedala até a Oscar Freire, onde chega às 7, e estaciona seu pequeno jardim.

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Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!