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Virgem aos 27: "é complicado, a família diz que sou a rainha da siririca"

Universa

08/01/2019 05h00

iStock

Não dá pra negar: sexo nos interessa. Muito. O conteúdo pornográfico, às vezes gratuito, está cada vez mais acessível, a um toque no celular. Nas novelas, de época ou não, casais se amassam sem pudor. Na música, o primeiro brasileiro a atingir a marca histórica de 1 bilhão de visualizações no YouTube foi Mc Fioti com "Bum Bum Tam Tam", e um dos hits do Carnaval deste ano é um forró cujo refrão chiclete diz "o nome dela é Jenifer / eu encontrei ela no Tinder / mas ela faz umas paradas que eu não faço com você" – paradas sexuais, claro. No país que transpira sensualidade, transar é obrigação?

 

"A rainha da siririca"

Aos 27 anos de idade, Franciele, que mora no interior de São Paulo, desabafa sobre a pressão que sofre por ainda ser virgem: "Na minha família já sou a tiazona. Eu namorei pouco. Sou bem na minha, fechada. Tive alguns relacionamentos à distância e isso não favorece, né?! Tentei com um carinha muito gente boa uma vez, porém senti nojinho e pedi pra parar. Eu acho que pra perder (a virgindade) tem que ser natural, não anotado na folhinha, e não pode ser de qualquer jeito. Não quero perder dentro de uma balada qualquer, e eu quero manter contato, nem que seja de amizade, com a pessoa. Ser virgem aos 27 é bem complicado, tem piadinhas até da família sobre ser 'a rainha da siririca'".

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Franciele ressalta que, quando mais nova, não ter transado ainda pesava na autoestima, porque fazia com que ela se considerasse fora dos padrões "hoje, mais velha, acho que sexo é uma coisa que simplesmente não aconteceu", diz.

Renata, que mora no interior da Bahia, também tem 27 anos de idade e é virgem. Seu último namoro – assim como seu derradeiro beijo na boca – foi aos 17. Dez anos atrás. Aos 18 ela conheceu, pela internet, uma mulher mais velha, de 30. Após dois anos se relacionando virtualmente, Renata foi ao encontro da crush – e sofreu sua primeira decepção amorosa. "Peguei um avião e fui. Ela não quis me ver e ainda mandou fotos do lance que teve na noite passada. Tive que fazer umas sessões de terapia escondida da família. Fingi que estava bem pra todo mundo, quando na verdade não estava. Hoje dou risada, porque eu realmente era muito menina", conta. "Eu fui criada na igreja, então aos 20 anos parei de ir porque já estava me deixando sufocada o fato de gostar de mulher e ouvir o pastor dizer que era pecado. Meus amigos não sabem de mim, mas desconfiam, porque não fico com ninguém."

"Sinto vergonha quando vou à gineco"

Ela diz não ter se apaixonado depois do trauma aos 18: "Morro de medo de me entregar para alguém, principalmente de longe. Sou virgem, porém o desejo não passa. Já me masturbei? Sim! Quem nunca?!", mas revela que, difícil mesmo é encarar a ginecologista. "Sinto vergonha quando vou à gineco. 27 anos sem transar… A minha primeira médica virou pra mim e disse que eu precisava encontrar um namoradinho. Eu nunca tive coragem de dizer que não gosto de homens, que meu prazer é mulher. Ela deve saber? Mas como vou dizer? Ela vai olhar pra minha cara e perguntar como eu tenho certeza, já que nunca fiquei com uma?!"

Para a Dra. Thaís França, que é ginecologista e terapeuta sexual, "apesar da liberdade sexual estar em alta nos dias de hoje, muitas mulheres vivem na contramão desse novo cenário e ainda não se envolveram na cama com ninguém", explica. "Dependendo da religião e da criação, manter a virgindade é uma atitude ainda nobre, mas quando isso é adotado por balzaquianas (mulheres por volta dos 30 anos), nem sempre é visto com essa mesma normalidade."

"Chato é ter que aguentar suas tias tentando te arrumar homem" 

Balzaquiana, Larissa, que vive no litoral paulistano, conta que tesão e vontade nunca lhe faltaram, mesmo assim o sexo nunca aconteceu. "Nunca rolou nem oral, nem penetração. Meu maior impasse é a falta de confiança na outra pessoa, o receio de me entregar e no outro dia ser a mais nova 'comida' que ele ia sair por aí contando. A sociedade espera que mulheres na minha idade estejam sexualmente ativas, quem sabe casadas, planejando ter filhos… Se no mínimo não tenho namorado é porque sou anormal, o que é bizarro. O chato é ter que aguentar suas tias tentando te arrumar homem ou a chefe dizendo que sou a única que ainda tô solteira. Tem dias que bate aquela bad, mas quem não sente? Garanto que minha masturbação me faz mais feliz que muita gente transando por aí", brinca.

Para a médica, o excesso de expectativas pode ser um entrave para o sexo. "Ser virgem aos 30 não é tão incomum quanto parece nos tempos atuais, mas se torna um problema quando a mulher se guarda pra esse tão sonhado príncipe que ela imaginou. Esse comportamento pode ter relação com o fato da mulher ter sido educada na sociedade pra ser frágil e dependente de um homem que é provedor. Não é à toa que temas relacionados a princesas em festas infantis para meninas ainda seja muito buscado. Só que esse príncipe encantado nem sempre vai surgir nos caminhos dessa mulher. É muito importante não idealizar, seja o parceiro, seja o momento, porque o cenário vai ficando difícil, complexo demais, a ponto da sua realização se tornar quase impossível. Com isso, a mulher deixa de perceber parceiros potenciais pra focar em um alguém que se encaixe no seu sonho. Cabe a cada uma encontrar meios pra que exista um equilíbrio entre aquilo que é sonhado e o que é viável."

Dra. Thaís França é médica ginecologista e terapeuta sexual

Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!