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Elas contam como é o ménage só com mulheres

Universa

01/04/2019 04h22

 

 

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Lembro, com nitidez, de um diálogo que aconteceu mais de meia década atrás entre mim e minha namorada na época. Passava da uma da manhã e eu escovava os dentes pra dormir. No sofá, ela assistia a um desses realities gringos que passam de madrugada, recheados de cenas de sexo.

– Já fez ménage? – perguntou, influenciada pela orgia na TV.

– Nunca. Você já? – redargui, enquanto um fio gelado de ciúme cruzava minha espinha e escapava pela boca.

Com toda a naturalidade do mundo ela treplicou: "já". Morri de cólera e comecei uma discussão que só não acabou com o relacionamento porque ela era mais madura emocionalmente – e me fez amadurecer também. Terminamos muitos anos depois, por outros motivos, mas somos amigas até hoje.

Buscar entender melhor o sexo me mudou ao longo do tempo. Se na primeira vez em que ouvi que uma namorada tinha transado a três tive uma síncope, hoje encaro com tranquilidade. As pessoas transam. Quanto mais bem resolvidas sexualmente, mais gozam – e fazem gozar. E isso deve ser celebrado, não criticado. Ainda não fiz sexo a três, mas não digo que "dessa água não beberei".

Cinco mulheres contam suas experiências

Conversei com cinco lésbicas e bissexuais que mergulharam na cama com duas (ou mais) mulheres, pra descobrir se as impressões que eu sempre tive sobre ménage eram reais. "Rola ciúme?", "alguém acaba sobrando?", "é melhor com uma amiga ou com quem nunca veremos depois?", e elas responderam, contando detalhes dessas experiências.

"Eu fui convidada por um casal de meninas. De início me assustou, porque sapatão é bicho ciumento. Elas se aproximaram, eu vi o interesse e tinha curiosidade. É bom, sim, mas sempre vai ter alguém sobrando. Não dá pra ser simultâneo. Como eu sou romântica e prefiro fazer amor que sexo, acho que daria nota 7 pra experiência, porque não deixa de ser gostoso, mas é muito mecânico."
Nayara, Goiânia/GO

"É sensacional a diferença entre sexo a três com um homem e uma mulher, e com duas mulheres. Só entre mulheres todo mundo é mais livre, as posições fluem com mais facilidade. Com homem tudo fica concentrado no orgasmo masculino. Por mais que eu seja desconstruída e feminista, quando tem homem no meio me vejo naquela situação de submissão sexual. Com mulheres isso fica pra trás, tudo caminha em sintonia e todos os orgasmos são igualmente importantes ali. Já fiz ménage com dois homens também, porém não recomendo. Homem não tem criatividade."
Fernanda, Vitória /ES

"Fiz a três com minha namorada e minha melhor amiga. Não deu muito certo. As duas se apaixonaram e virou um triângulo amoroso. Estamos trabalhando para manter o relacionamento e a amizade. Isso já tem oito meses. Estamos bem, elas são próximas como amigas, mas eu dei uma afastada na amizade. Foi um aprendizado pra nunca mais fazer! (risos)"
Milena, Pelotas/RS

"É importante tudo ser conversado antes. Eu topo tudo: anal, oral, penetração. Com ou sem brinquedos. Esses diálogos têm que acontecer, como em qualquer sexo. A ideia inicial de algo a três, a quatro, a cinco é o prazer. Ninguém está ali pra conhecer o amor da vida, é algo mais carnal. Então o assunto 'o que me dá tesão' e 'como eu gosto de gozar' tem que rolar, porque ninguém está lá pra descobrir aos poucos. Óbvio que pode rolar algo a mais entre alguém, mas a ideia inicial não é essa, e sim prazer."
Flávia, Americana/SP

"Já tive umas três aventuras e todas elas foram maravilhosas. Não rolou só prazer, não. Sei lá se é por eu ser libriana e sentimental, mas as participantes também gostaram e repetimos por vários meses. Na minha última experiência eu namorava e, por consequência de uma festinha, uma amiga nos convidou e acabou rolando. Por incrível que pareça, foi o melhor sexo que fiz na minha vida! Uma mistura de tesão e sentimento bom. Estamos juntas há oito meses, somos um trisal e não temos pretensão nenhuma de parar. Ciúmes rolam, como em todo relacionamento, mas bem conversadinho todo mundo se diverte."
Tássia, Curitiba/PR

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Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!