Topo

Morango

O amor é resistência: quando duas mulheres se assumem, encorajam outras

Universa

08/01/2020 04h00

Alice Braga e Bianca Comparato confirmaram o namoro esta semana (Foto: Reprodução/Instagram)

Alice Braga e Bianca Comparato. Vitória Strada e Marcella Rica. Camila Pitanga e Beatriz Coelho. Em comum, além da profissão, as atrizes assumiram os namoros recentemente e causaram furor nas redes. Afinal, estaríamos diante de um êxodo heterossexual? Uma debandada em massa para o lado colorido da força?

Vivemos um momento inédito. Sair do armário é um ato pessoal, político e, sobretudo, necessário.

A atriz Bianca Comparato (Foto: Reprodução/Instagram)

Comigo, aconteceu a conta-gotas. Aos 15, beijei a primeira menina. Com 16, me assumi para os amigos e familiares mais próximos. Só aos 24 me senti segura para tornar isso um fato público. "Ah, mas quem é que quer saber se uma mulher beija mulheres ou homens?". É, num mundo ideal essa informação seria totalmente irrelevante. Mas ainda não chegamos lá.

"Que sorte a minha ter você no meu mundo", declarou Vitória (à esquerda) à Marcella em uma rede social (Foto: Reprodução/Instagram)

Anteontem, vibrei com a notícia sobre a Alice e a Bianca. Quando duas mulheres se assumem, encorajam outras a fazerem o mesmo.

Um dia depois, li que cinco amigas foram atacadas em um parque de diversões em São Paulo porque, segundo os agressores, elas "pareciam homens".

Como mulheres, não temos sossego. Sendo mulheres não-heterossexuais, muito menos. A carga é duas vezes mais pesada.

Veja também:

Precisei de 20 anos pra me entender e me aceitar por completo. E, sim, estou falando exclusivamente da minha sexualidade. É que desde criança a gente ouve que tudo o que diverge da heteronormatividade é errado, pecado e feio. Esse preconceito introjetado fez com que eu me sentisse a pior pessoa do mundo durante muito tempo e tentasse, desesperadamente, compensar isso de todas as formas possíveis, já que eu tinha nascido "com defeito". Estava tudo errado – e não era comigo.

Em pleno 2020, o presidente da República critica livros didáticos. Declara que são "um amontoado de coisa escrita". Sua ministra, Damares Alves, num discurso igualmente obtuso, propõe que os jovens simplesmente deixem de fazer sexo para evitar a gravidez precoce. É uma ode à ignorância sem precedentes. Aliás, há precedentes, sim. Em regimes totalitários.

Diante do obscurantismo, o amor é resistência.

Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!