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Morango

Tô de volta ao jogo e trago verdades!

Angélica Morango

04/07/2017 04h00

(Foto: Arquivo pessoal)

Quando completei 30 anos senti o impacto de uma vida inteira com a cara no sol. Perdi bumbum, ganhei cintura. Perdi sardinhas, ganhei um amontoado de manchas que só saem a laser. Mas nem tudo são desgraças: financeiramente estou melhor que aos 20, dá pra pagar uma dermatologista. Só não dá pra pagar uma dermatologista e um personal trainer ao mesmo tempo, porque aí já é querer demais nessa crise.

Olhando para o passado, rio das fotos. Do cabelo que eu tinha. Do sorriso que eu tinha na adolescência. Me pergunto de onde vinha a coragem de sair pra rua de top e calça jeans caindo. Mais do que coragem: a audácia de achar que estava deusa, Gisele Bündchen do Cerrado!

Aprendi a me aceitar como sou e, sobretudo, a ter força de vontade suficiente para mudar o que acho necessário. Assumi minha homossexualidade para o meu pai aos 23, assim que terminei a faculdade. Não contei antes porque temia a reação dele, e eu não estava errada. Ele precisou de uns dois anos pra digerir e compreender que nada mudaria.

Quando a minha avó soube foi muito mais fácil. E é sempre mais e mais descomplicado. Se as pessoas que realmente importam estão do meu lado, por que me abalaria com opiniões alheias?

"É lésbica porque não foi pra cama com um macho de verdade" ou "Virou sapatão porque se decepcionou com os homens", são algumas frases que já ouvi dezenas de vezes. E olha, no começo da minha vida sexual fui pra cama com alguns caras bem interessantes. Cheguei lá. Não foi ruim. Mas me relacionar com um homem é o mesmo que estar morrendo de fome e beber um copo d'água. Não há nada de errado com eles, nem comigo. Assim como não é um crime gostar mais do azul ou preferir o amarelo, roxo, fúcsia.

Eu não fui orientada a ser homossexual. Eu não aprendi na escola, nas novelas, nem nos filmes. Eu nasci assim. E preferindo o azul. Gostando muito mais de subir em árvores e jogar futebol do que brincar de boneca. E nasci morena, com olhos castanhos. Posso mentir ou maquiar quem sou no afã de receber mais amor e aceitação. Mas por que fazer isso?

O tempo traz sobriedade, paciência, leveza. Entendi que tudo passa. Sucesso, fracasso, amores, dores… Opa, dores não, essas vão se acumulando devagarzinho. É um torcicolo aqui, um joelhinho doendo ali, a cabecinha latejando acolá… Apesar disso, o sexo melhora. A gente desencana de certos detalhes e descobre novos truques. Entende que cada pessoa tem uma beleza e um charme únicos, seja aos 20, 30, 40, 90…

Caetano Veloso, hoje com 74, tinha 36 anos quando lançou Oração ao Tempo, uma música linda:

"És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo, tempo, tempo, tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo, tempo, tempo, tempo…"

Eu precisei passar dos 30 para entender a mensagem. Sempre pedimos mais tempo – e nem sempre o usamos bem. Aproveitei o embalo e fui revisitar músicas do Legião e do Capital, bandas que eu gosto desde jovenzinha. E tudo bem crescer e gostar das mesmas coisas. E ok mudar outras.

Estamos aqui tentando esse acordo com o tempo. Queremos tempo pra fazermos tudo, pra vivermos tudo e, se possível, ainda reviver os momentos bons. Agora, por exemplo, o tempo é de reencontro. Meu e seu, aqui no UOL.

Depois de um hiato de dois anos desde o meu último texto sobre o Big Brother Brasil, estou de volta. Desta vez pra escrever sobre a vida, relacionamentos, sexo e comportamento. Tô de volta pro jogo e muito feliz por dividir a bola com você. Um beijo grande e até já, já!

Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!