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"Não sei se sou lésbica, pois nunca fiquei com uma mulher". E por que não?

Angélica Morango

26/07/2017 04h00


– Eu não sei se sou lésbica porque nunca fiquei com uma mulher.
– Mas já teve vontade?
– Já.
– E por que não experimentou?

Essa conversa entre mim e uma amiga aconteceu recentemente. Ela é um pouco tímida, mas já usou o Happn pra conhecer alguns caras. Perguntei por que não procurava garotas desse mesmo jeito e ela falou do receio de ser "descoberta". E ela não é adolescente, nem mora com os pais há anos.

Pelo medo do desconhecido, da opinião alheia, por vergonha, deixamos de fazer coisas que temos vontade. E eu nem tô falando só de beijo ou de sexo. Quantas vezes você já pensou em publicar uma selfie ou um texto nas suas redes sociais e acabou desistindo pra evitar uma possível enxurrada de comentários chatos? Em quantas festas deixou de ir porque achou que não tinha roupa? Quantos sabores ficou sem provar por que ouviu coisas do tipo "jiló é intragável e abacaxi dá afta"?

Os comentaristas das redes sociais continuarão existindo, independentemente das suas postagens. O baile vai seguir, com ou sem você e seu traje. E jiló e abacaxi serão sempre uma dupla polarizadora, uns amam, outros odeiam – mas só depois de experimentar você vai saber se um determinado sabor te agrada ou não.

O que parece ser mais interessante: degustar ou evitar?

Vivemos num país livre e lutamos para mantê-lo laico. As relações entre pessoas do mesmo sexo não são proibidas – como acontece em países da África, Ásia e até aqui na Guiana, nossa vizinha na América do Sul, onde o amor entre iguais pode levar a punições que variam de multas e prisão à pena de morte; uma realidade cruel e assustadora.

No Brasil podemos nos permitir viver um lance, um romance e até um casamento com quem quisermos – desde 2013 todos os cartórios do país são obrigados a lavrar certidões de casamento para casais homossexuais, o que possibilita a inclusão em plano de saúde e seguro de vida, pensão alimentícia, direito sucessório e divisão dos bens adquiridos pelos parceiros. São os mesmos direitos que casais heterossexuais têm.

Uma pessoa convicta da sua heterossexualidade não precisa se envolver com alguém do mesmo sexo só pra ter certeza absoluta de que é hétero. E vice-versa. Acontece que entre a completa heterossexualidade e a homossexualidade existe uma gama de possibilidades.

Nenhuma mulher simplesmente acorda de manhã, olha pro céu e suspira: "É, está um belo dia pra sair por aí e beijar a boca de uma mina gostosa" ou "Vou 'virar' lésbica porque deve ser maravilhoso dividir o guarda-roupa, as maquiagens e o meu corpo com outra mulher".

Mas se o interesse surgir, a pergunta a ser respondida é: "por que não?"

 

Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!