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Porque eu não quero ter filhos

Angélica Morango

15/08/2017 04h00

Essa sou eu, aos 3 anos. (Foto: Arquivo pessoal)

Desde a oitava série até o fim do colegial, vi colegas de classe engravidarem. Algumas se casaram imediatamente, outras, muitos anos depois. A gravidez precoce não era exatamente um escândalo, mas também não era o sonho de princesa de ninguém.

Aos 20 anos comecei a pensar mais na ideia, em como poderia ser bom cuidar de um bebezinho. Aí os boletos batiam à porta, os amigos chamavam pra festas e a faculdade não me deixava muito livre. Um tempo depois, com menos distrações e a vida financeira mais estável, refleti novamente sobre o assunto. E cheguei à conclusão de que a minha vontade de ter um filho era, no fundo, uma tentativa de consertar umas coisas no meu passado, pra ser a mãe que a minha mãe não foi. E compreender isso mudou muita coisa em mim.

Crianças não devem chegar a uma família como uma responsabilidade catártica. Tampouco pra manter um casal junto, acabar com a monotonia da casa ou pra alcançar objetivos que os pais não conseguiram. Muitos nascimentos e adoções são carregados dessas expectativas.

Somos todos falíveis, imperfeitos. Uma mãe pode ser uma mãezona ou apenas uma mulher que deu à luz. Um pai pode ser o melhor pai do mundo ou só um cara legal e distante. A diferença não está nas obrigações legais e jurídicas cumpridas ou não, mas no amor, nos cuidados e no compromisso que se está disposto a manter pra sempre com aquela vida que se ajudou a gerar. Bebês vão crescer, tomar suas próprias decisões e muitas vezes elas vão estar em desacordo com o que a família quer ou espera.

Não há nada de errado com os jovens que se tornam pais "por acaso", nem com os casais que decidem ter filhos depois dos 40 ou com as pessoas que simplesmente não querem tê-los. Precisamos resistir à tentação de julgar as escolhas dos outros e entender, de uma vez por todas, que pessoas que tomam decisões diferentes das que tomaríamos podem ser felizes, sim.

Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!