"Saí do armário e não sei como contar ao meu filho. E agora?"
Sempre dividi minhas experiências pessoais por acreditar que compartilhar histórias é uma forma de ajudar as pessoas. Especialmente em assuntos que são muito delicados. Um dos maiores desafios da minha adolescência foi me entender homossexual, lidar com esse fato e, principalmente, revelar isso à minha família.
Com o tempo conheci outros jovens gays e também famílias formadas por casais homossexuais e filhos pequenos. Gente que me deixou mais à vontade comigo mesma. Pessoas que me mostraram, na prática, que ser diferente da maioria não é um problema.
Recentemente recebi o pedido de ajuda de uma mãe que saiu do armário e teme a rejeição do filho de 16 anos, que é heterossexual. Eu e essa mãe temos quase a mesma idade. Como eu lidaria com essa situação?
Assisti ao documentário Laerte-se, na Netflix, que aborda a transição da cartunista Laerte Coutinho. Laerte nasceu no gênero masculino, casou-se, teve três filhos e refutou sua homossexualidade por décadas até resolver se adequar fisicamente ao gênero com que mais se identificava, o feminino. A história é muito parecida com a da americana Caitlyn Jenner. Após três casamentos e seis filhos, Bruce Jenner, consagrado como um dos maiores atletas de sua época e celebrizado no reality Keeping Up With The Kardashians, também optou pela transição sexual, tornando-se Caitlyn.
Hétero ou gay um casal pode se divorciar, mudar de cidade, de profissão, encontrar novos parceiros… E os filhos vão ter de lidar com essas situações. Amar também é compreender que, na maioria das vezes, as coisas não vão acontecer como esperamos ou desejamos.
Ainda em busca de uma resposta mais sólida sobre como a mãe poderia se assumir homossexual para o filho, conversei com uma que, depois de se aceitar lésbica e se separar do marido, explicou toda a situação para filha, à época com 5 anos. Ao invés de fazer uma série de perguntas, a garotinha quis saber se a mãe seria feliz. Ao ouvir a resposta afirmativa, a pequena seguiu brincando como se nada tivesse acontecido.
Na escola da menina, que hoje tem 12 anos, a mãe contou que o preconceito não é declarado, mas existe: "Muitas crianças não a convidam para suas casas por ela ter duas mães, e alguns pais olham torto quando vamos juntas a reuniões e encontros de pais e filhos. Vida que segue. Me relacionar com outra mulher não muda minha essência de mãe."
É possível ser homossexual e permanecer em um relacionamento hétero por anos? Sim. Dá para viver em um corpo sem considerá-lo o mais adequado, mas mantê-lo por acreditar que a sociedade assim espera? Claro.
É praticável, inclusive, sustentar uma rotina celibatária e reclusa dentro de casa para sempre: dá pra trabalhar em um home office, pedir tudo delivery e dessa forma evitar julgamentos e críticas sobre a aparência ou o estilo de vida. Dá pra se abrir a novas experiências ou se fechar dentro do armário. Abdicar da vida ou gozá-la em toda sua plenitude.
Para se assumir lésbica para o filho adolescente seria bom começar uma conversa franca e gentil. Assim como um dia foi a explicação sobre o fim do relacionamento com o pai dele, por exemplo. Expor temores e anseios não nos torna mais frágeis, nem nos faz imbatíveis, só nos deixa mais humanos.
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