Ivana, agora Ivan e grávida, embaralha nossos conceitos. E isso é incrível!
Ela gostava de um cara, mas não curtiu transar com ele e desistiu do namoro. Depois trocou os cachinhos loiros por um corte Joãozinho, assumiu de vez um visual de garoto e engrossou a voz. Virou sapatão? Lésbica? Biscoita? Fancha? Mulher-macho? Não.
Ivana revelou-se transgênero. Descobriu que a sensação de não pertencimento ao gênero feminino ia muito além da aversão aos vestidos com que nunca se identificou. Entendeu que encobria seus seios porque seios são um símbolo de feminilidade e ela sempre se sentiu como um homem. Um homem que nasceu no corpo errado. Transgêneros e transexuais são pessoas que não se identificam com o sexo biológico que lhes foi atribuído no nascimento. Ivana é um homem trans. Foi designada como mulher, mas se reconhece como um homem, agora Ivan.
A história de Ivan, escrita por Glória Perez e interpretada pela atriz Carol Duarte, tem nuances complexas. Ivan sente uma paixão por Cláudio (Gabriel Stauffer) e descobrirá que está grávido dele. Se Ivan gosta de um cara, ou sente atração por homens, então Ivan é um homem trans gay? Sim. E não é só na ficção que isso acontece. Uma busca por "homem trans grávido" no Google revela diversos casos pelo mundo.
Aí você pode se perguntar como eu a princípio me perguntei: não seria muito mais fácil Ivan ter se mantido mulher e vivido tranquilamente esse romance com Cláudio? Isso evitaria que ele se expusesse a tantos conflitos e tanto preconceito na família e nas ruas! Entretanto na ficção ou na vida real jamais saberemos o que se passa na cabeça e no coração das pessoas.
Homens trans podem se envolver com mulheres, com outros homens trans ou mesmo com heterossexuais, como é o caso do personagem Cláudio. Cláudio se identifica com o gênero masculino que lhe foi atribuído ao nascer e sente atração física e amorosa pelo sexo oposto, ou seja, mulheres, e por isso se apaixonou por Ivana. O desfecho dessa relação dos dois na novela ainda é um segredo.
O desenvolvimento da história vai muito além da explicação didática sobre a vida de uma pessoa trans. Vanguardista, Glória Perez propõe uma reflexão sobre nossos próprios valores e sentimentos quanto à diversidade. Mais que definir ou rotular as pessoas, precisamos trabalhar em nós o respeito às escolhas delas.
Existem pessoas trans que buscam adequar seus corpos aos gêneros com os quais se identificam. Existem pessoas trans que, depois de percorrer este caminho de mudança de sexo, voltam atrás e fazem a "destransição". E existem pessoas como eu, e talvez como você, que precisam apenas de uma plástica pra se sentirem mais plenas. Eu coloquei silicone nos seios e já me arrependi algumas vezes quando me apaixonei por camisas que não vestiram bem por causa das peitolas.
Sei que se um dia eu quiser retirar o silicone ou mesmo trocar as próteses por outras ainda maiores, isso seria muito mais "socialmente aceitável" do que se eu decidisse fazer uma transição sexual, por exemplo. Entretanto eu não baseio minhas escolhas pelo o que é "socialmente aceitável", mas por outros critérios, como a minha felicidade. Não estou aqui comparando, aumentando ou minimizando o impacto de algumas escolhas, mas é que acredito que a vida tem o peso ou a leveza que quisermos enxergar nela.
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