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Por que um casal de namoradas se beijando na padaria incomoda tanto?

Angélica Morango

28/12/2017 04h00

Tati e Laura, que foram hostilizadas em uma padaria por trocarem carinhos (Foto: Reprodução/Facebook)

Não pode beijar na padaria. Não pode sobreviver à homofobia e fazer sucesso. O carinho incomoda. O êxito incomoda.

Agora mesmo, no finalzinho do ano, quando os corações deveriam transbordar amor, tolerância e vibrar paz, seguimos assombrados por brutalidades.

As namoradas Tati Brandão e Laura Baruffaldi, foram hostilizadas por trocarem carinhos em uma padaria em Perdizes, Zona Oeste de São Paulo.

Um apresentador de TV do Rio de Janeiro fez um ataque homofóbico a Pabllo Vittar pelo Twitter.

Quando contei ao meu pai que era lésbica

Foi em um dezembro, há oito anos, que eu ouvi uma das declarações mais amargas do meu pai. Eu tinha revelado minha homossexualidade há pouco tempo, ficamos meses sem nos falar, então fui passar algumas semanas na casa dele. Esse período todo em que tentávamos nos adaptar um ao outro foi complicado.

Um dia, numa ida juntos ao supermercado, ele comentou que se estivesse num restaurante e se sentasse a poucas mesas de um casal lésbico que se beijasse, se levantaria e iria embora na hora. Isso me atingiu como um soco no estômago.

Dias depois estreei no Big Brother Brasil e, sem que eu soubesse ou esperasse, meu pai – que não apoiava a minha participação no programa – fez um blog pra mobilizar a torcida por mim. E então todos os dias ele começou a receber centenas de mensagens de pessoas, principalmente mulheres, que se identificavam com a minha história e contavam um pouco das suas. Saber do preconceito, das hostilidades e da violência que muitas delas sofreram mudou o meu pai.

De intolerante, meu pai virou conselheiro 

Essa transformação só foi possível porque ele permitiu. De um cara intolerante, que disse considerar a homossexualidade uma doença quando me assumi lésbica, ele começou a agir como um conselheiro na internet, ficou mais complacente e aberto às diferenças e até virou um telespectador assíduo de "Ru Paul's Drag Race" – um reality americano de drag queens que inspirou Pabllo Vittar a ser o artista que é.

Um cantor jovem e assumidamente gay ser um dos fenômenos de maior sucesso do país incomoda. As manifestações de carinho entre um casal de mulheres na padaria, também.

A diferença entre ter uma opinião e manifestar um preconceito de forma violenta, seja psicológica ou fisicamente, é muito clara. Aos criminosos, justiça. Aos que lutam pelo direito de existir sem máscaras, voz.

Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!