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Demissexualidade: o que é e por que tantos jovens têm se identificado assim

Universa

20/10/2018 04h00

O vídeo "Eu sou demissexual", da youtuber Natasha Rattacasso, foi visto mais de 1 milhão de vezes em menos de duas semanas (Foto: Reprodução/Instagram)

"Na adolescência, eu não sentia vontade de me relacionar com homens. Até pensei que poderia ser lésbica, mas também não sentia atração por mulheres e, quando me forcei a ficar com uma, tive consequências nada agradáveis, sentimentos estranhos", conta a youtuber Natasha Rattacasso, de 23 anos. No vídeo em que fala sobre essa vivência, ela recebeu mais de 1 milhão de acessos em menos de duas semanas. O número expressivo de espectadores dá uma ideia sobre o interesse que o assunto "demissexualidade" desperta.

Três anos atrás, ao começar a fazer terapia, Natasha entendeu que era demissexual. Pouco depois, ela se apaixonou pelo colega de faculdade e se jogou de cabeça na relação sem se preocupar com que os outros pensariam a respeito. "Eu não demorei nem um dia pra transar com ele sem qualquer pensamento ruim ou julgamento. Eu apenas o amava e o desejava. Fiz o que senti vontade", revela. Os dois estão juntos desde então.

Natasha e Leonardo estão casados há um ano e meio (Foto: Reprodução/Instagram)

Demissexual: quem só sente desejo depois de estabelecer um vínculo

A psicóloga Rafaela Queiroz explica que, para uma pessoa demissexual, a atração física está diretamente relacionada a uma conexão afetiva. "Quem é demissexual sentirá atração/desejo sexual por outra pessoa quando estabelecer um vínculo com ela. A demissexualidade não está relacionada à orientação sexual ou de gênero. Por exemplo: uma mulher trans (identidade de gênero), bissexual (identidade sexual), demissexual, sentirá atração por outra pessoa quando estabelecer uma ligação afetiva ou emocional com ela; ou seja, pode até olhar pra alguém atraente, mas o desejo por algo físico ou sexual só se dará após uma conversa em que consiga sentir um vínculo."

"Nunca gostei de sair beijando desconhecidos"

"Antes eu achava que era 'careta' porque nunca gostei de sair beijando desconhecidos e pessoas aleatórias, tanto que só fui dar meu primeiro beijo aos 15 anos, e foi horrível! Me forcei a isso por me achar velha demais por ainda não ter beijado. Quando encontrei o significado de demissexualidade me senti menos esquisita", desabafa a universitária Natália Lima, 19. "Muita gente acha desnecessário o termo 'demissexualidade'. Falam que é mais um rótulo para ficar padronizando as coisas, mas eu vejo como uma oportunidade de se ver representado e encontrar outros que se sintam como você. A representatividade é muito importante pra gente se aceitar, aceitar como somos e como funcionamos."

Natália Lima sobre o primeiro beijo aos 15 anos: "Foi horrível! Me forcei a isso por me achar velha demais por ainda não ter beijado" (Foto: Brenda Porto)

O rótulo que alivia

Não são apenas mulheres que se identificam como demissexuais. O Dj Leonardo Piacezzi, 22, passou boa parte da adolescência se sentindo deslocado e sendo questionado pelos amigos por não conseguir se relacionar. "Eles sempre pegavam no meu pé porque eu nunca beijava ninguém nas festas, nunca tinha essas histórias pra contar nas nossas rodinhas de conversa. Eu realmente não gostava, não me sentia bem, parecia que eu não sentia essa atração pelos outros, sabe? Já me forcei a me relacionar com outras pessoas e me sentia péssimo, muito vazio, como uma carne no açougue. Um dia, no ano passado, mexendo na internet, comecei a pesquisar sobre orientações sexuais, e eu achei um site falando tudo sobre a demissexualidade. Eu fiquei 'de cara' porque algo tinha me definido tão bem! Me senti muito abraçado por ter encontrado aquilo, parecia que era feito pra mim. Mesmo que eu nunca tivesse gostado de padrões e definições, porque eu acredito que isso me limita, eu gostei de me definir como demissexual. Demissexualidade é um rótulo, eu sei, mas alivia viu?!"

"Já me forcei a me relacionar com outras pessoas e me sentia péssimo, muito vazio, como uma carne no açougue", relata Leonardo (Foto: Reprodução/Instagram)

Todas as pessoas que se sentem demissexuais precisam buscar apoio profissional? Para a psicóloga Rafaela Queiroz, nem sempre: "Não há necessidade se não tem angústia ou sentimento de solidão constante. Se há, principalmente no processo da descoberta, é recomendado".

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Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!