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Como ser sapatão parecendo viado (e vice-versa)

Universa

26/06/2019 04h20

Pamela já ficou com meninos gays, de aparência feminina: " eles chegavam me confundindo com menino, mas eu contava que era mulher" (Foto: Arquivo Pessoal)

Eu tava procurando uma música no YouTube quando de repente, PLAU! A plataforma me sugeriu o vídeo "Como ser sapatão parecendo viado". Quase cuspi o café que eu tava tomando na tela. "Como assim, gente?! Vou ter que ver isso!" E fui. No vídeo, que acumula mais de 140 mil visualizações, a publicitária Juh Guaraná, de São Paulo, conta que, apesar de ser uma mulher lésbica, é frequentemente confundida com um homem gay. "Eu sou o tipo de sapatão que parece tanto um viado, que até os viados se confundem". No seu canal, o "Como Lidar?", ela relembra o dia em que começou a flertar na balada e só depois, no fumódromo, descobriu que a crush não era menina, e sim menino, Thiago. "Eu olhei pra ele, ele olhou pra mim… E foi um beijo ma-ra-vi-lho-so", entrega.

Elas beijam meninas e meninos

Juh não é a única. Em Brasília, Sara Oliveira, 30, que é uma mulher lésbica, também é bastante confundida por seu visual tomboy. "É chato entrar em um banheiro feminino, por exemplo, sempre me confundem, mas me sinto bem em ser assim. Têm pessoas que confundem e elogiam ao mesmo tempo, inclusive homens! Eu relevo numa boa, até porque todos elogios sempre foram respeitosos", conta. Uma vez, Sara se apaixonou durante uma Parada Gay em Brasília: "Ela era linda demais e no fim da Parada me puxou e me deu um beijo. Só descobri que era um menino porque ela mesma me contou. Fiquei morta de vergonha! Mas até os meus amigos, que são gays assumidos, beijam meninas na Parada. É muita diversão, sempre tem uma mistura de tudo."

"É chato ao entrar em um banheiro feminino, sempre me confudem", diz Sara Oliveira (Foto: Arquivo Pessoal)

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No meio LGBTQ+ a gente brinca que já nasce com um "gaydar", que seria uma espécie de radar interno que dispara quando avistamos outro habitante do "Vale dos Homossexuais". Mas esse "gaydar", que nada mais é que pura intuição, falha hor-ro-res.

Pamela Rodrigues, 24, que é lésbica, conta que é confundida o tempo todo, não só por mulheres homossexuais, mas também por homens gays. "Certa vez eu estava na balada, conversando com uma menina que estava conhecendo, até que o amigo dela chegou. Depois de alguns minutos ele questionou se eu era mulher e não acreditou quando respondi que sim. Como eu estava com uma camisa jeans, abri um pouco pra ele ver os seios", lembra. Alguns meses depois, no mesmo clube noturno, enquanto ficava com a mesma menina, Pamela foi confundida novamente. Dessa vez, pelas amigas da paquera "elas viram e perguntaram o que estava acontecendo, já que ela estava ficando com homem, ou seja, a mesma situação". Como Sara e Ju, Pamela revela não ter problemas em ficar com meninos gays de aparência mais feminina "já aconteceu algumas vezes, eles chegavam me confundindo com menino, mas eu contava que era mulher".

"Nasci assim"

Assumidamente gay, Rudson Carvalho, 36, vive o outro lado dessa situação. Por causa dos traços delicados e dos cabelos compridos, ele é constantemente confundido com mulher nas ruas e no trabalho. "Sou afeminado, mas não uso roupas femininas, nem maquiagem. Quando estou com minha mãe e me confundem, fico um pouco sem graça, mas no final damos risada. As pessoas falam que é o meu jeito de andar, minha postura, meu corpo. Não uso hormônios, nasci assim." Quando vai para a balada, Rudson é bastante paquerado por mulheres lésbicas, mas lamenta não fazer o mesmo sucesso com os homens "é muito raro vir um gay querendo me beijar".

"No meu trabalho, muitos achavam que eu era mulher", relata o paulista Rudson Carvalho, 36 (Foto: Arquivo Pessoal)

"Quando era um pouco mais jovem, estava em uma festa e saí com um cara. No meio do caminho ele começou a falar coisas como se eu fosse mulher. Virei pra ele e disse: 'Querido, eu não sou mulher'. Ele freou o carro e pensei que me daria uma surra. Ele ficou perplexo. 'Como assim, não é mulher??? Mas você é muito linda, parece mulher, vamos sair mesmo assim'. Ufa!", lembra Rudson, aliviado.

"Eu sabia exatamente do que os homens gostavam"

"Eu sabia exatamente do que os homens gostavam e esse jogo estético fazia parte", entrega Andressa (Foto: Arquivo Pessoal)

A arquiteta Andressa Gama, de 30 anos, começou a alisar os cabelos aos nove de idade. Bastante vaidosa, na adolescência ela passou a tingir as madeixas de ruivo até que, depois de quase duas décadas sentindo que aqueles rituais não faziam parte de sua essência, decidiu mudar radicalmente.

"Raspei o cabelo e desmontei a minha feminilidade"

"Eu sabia exatamente do que os homens gostavam e esse jogo estético fazia parte. Eu queria casar, morar com um cara, almoçar com a família aos domingos. Até que fui morar com meu namorado e foi a pior experiência da minha vida! Junto com o caos, eu descobri que não queria isso. Performar não fazia mais sentido. Meus amigos falam que eu morri e nasci de novo. Eu me separei, tive Burnout (estresse crônico provocado por excesso de trabalho), e então raspei a cabeça e desmontei bastante a minha feminilidade. Chegaram a perguntar para a minha irmã se eu estava mudando de sexo. De lá em diante só estamos mais loucas e fortes", conta Andressa, que no meio de tantas mudanças, se entendeu bissexual .

"Aprendi a gostar de ficar sozinha", reflete a arquiteta (Foto: Arquivo Pessoal)

"Tô muito mais segura porque aprendi a gostar de ficar sozinha. Antes eu não ficava solteira, não. Foi um conforto pessoal enorme esse processo de aprendizado. Às vezes eu coloco vestido e batonzão, às vezes eu tô um belo de um menino e é ótimo", diverte-se.

Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!