Gianecchini saiu do armário e chocou “zero pessoas”. Deveria?
Sim, deveria. Não pela revelação em si, mas principalmente pelo que ele poderia ter dito e não disse. E essa não é a primeira vez que Reynaldo Gianecchini refuta sua orientação sexual. Lançada há sete anos, a biografia do modelo e ator conta que os boatos de que ele era homossexual teriam surgido depois dele se envolver com uma mulher casada que, para despistar o marido, espalhou que ele era gay. Hã?! Em outro momento, em 2017, Gianecchini foi flagrado beijando um homem em Ibiza. Ele se absteve de comentar o caso e sua assessoria apenas confirmou que o ator estava na cidade e havia encontrado um amigo, mas frisou que o beijo na boca não era romântico. Quando li mais essa respirei fundo e revirei os olhos com tanta força que achei que não voltariam ao normal. Há dez anos sei que o Giane se relaciona com homens porque ele já teve um affair com um amigo meu.
Por que sair do armário publicamente é tão importante?
Quando uma celebridade LGBTQI+ se omite ou nega sua sexualidade, perpetua o preconceito ao reforçar a ideia de que isso seria um bicho de sete cabeças. Ao falar sobre o tema com franqueza, a repercussão gera um debate positivo que ajuda na quebra de tabus, além de inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo. Dois anos atrás, o ator Leonardo Vieira revelou publicamente sua orientação sexual.
No ano passado, o ator Luis Lobianco, atualmente na Dança dos Famosos, também. O músico Lulu Santos e o atleta Diego Hypólito são duas outras personalidades que encararam o desafio de falar abertamente sobre o assunto. Isso para citar apenas alguns brasileiros, já que a lista de celebridades internacionais que escancararam as portas de seus armários é enorme.
Só quem não se encaixa no conceito hetero-cis-normativo ou heteronormativo (que marginaliza as orientações sexuais que se diferem da heterossexual) conhece as consequências de ser "diferente". Em outras palavras, a gente sabe que não corresponder às expectativas da sociedade tem um preço: do bullying na infância a todo tipo de agressão verbal e física, até o risco ampliado de morte. De acordo com o Grupo Gay da Bahia (GGB), a mais antiga associação dos direitos humanos dos homossexuais do Brasil, um LGBT é morto a cada 19 horas, assassinado ou vítima de suicídio por LGBTfobia no país. Para tentar evitar a discriminação e a violência, há quem leve uma vida dupla, com relacionamentos de fachada, entre outros truques que não são exatamente escolhas, mas táticas de sobrevivência.
O "B" de LGBTQI+ não é de "Bolos Maria da Paz"
Ao assumir pela primeira vez que já teve "romances com homens", mas que não se sente "obrigado a empunhar a bandeira da homossexualidade", Gianecchini demonstrou não compreender que a liberdade que busca para si só estará mais próxima quando ao invés de ser rejeitada, a questão for encarada com comprometimento. Homens que se envolvem romântica ou sexualmente com outros homens são gays. Homens que se relacionam com homens e mulheres são bissexuais – o "B" de LGBTQI+ não é de "Bolos Maria da Paz".
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