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Por que eu odeio pornô lésbico (e o que não aprendi em filme de sacanagem)

Angélica Morango

27/09/2017 04h00

(Foto: Getty Images)

Outro dia, num desses fóruns da internet, um cara perguntava: "Assistir a um filme pornô gay me torna gay?". Na hora eu ri da pergunta, achei ingênuo. Mas acabei ficando com isso na cabeça. Então decidi responder aqui a todos os moçoilos e moçoilas que porventura tenham a mesma dúvida.

Nada, absolutamente nada no mundo tem a capacidade de tornar alguém gay. A homossexualidade – que não é uma doença – não é transmitida pelo ar, pelo convívio, muito menos por uma tela de TV ou smartphone. Tenho certeza de que eu e você, juntos, já assistimos a milhares de filmes de terror, suspense e policiais, e nem por isso nos tornamos psicopatas assassinos ou agentes da lei.

Também já assisti a uma quantidade razoável de títulos pornôs de todos os tipos e posso assegurar que isso sequer melhorou a minha performance. Sexo se aprende fazendo. Ler, pesquisar e conversar sobre ajuda porque dá mais segurança pra hora do "vamos ver", mas é só com a prática que o desempenho da gente melhora – ou não.

Quanto aos pornôs, os filmes héteros me cansam um pouco porque grande parte dos roteiros é bem previsível. A mulher vai fazer um sexo oral no cara, depois ele vai comer ela, em seguida gozar nos peitos ou na cara dela e fim. Assisti-los nunca reverteu minha sapatonice, assim como os filmes lésbicos nunca "reforçaram" o meu jeito 44 de ser.

Os pornôs lésbicos, pra dizer a verdade, me deixam a-p-a-v-o-r-a-d-a! Primeiro porque geralmente as atrizes são héteros e têm unhas compridíssimas que elas vão usar pra fazer você sabe o quê. Depois elas vão se beijar, brincar com mil dildos de todos os tamanhos e formatos e dar umas lambiscadas péssimas nos clitóris uma da outra. Tudo isso enquanto as duas seguem sem uma gota de lubrificação natural. Socorro!

Aí restam os pornôs gays. Boa parte dos atores desse tipo de filme são gays e a sensação que tenho é a de que eles atuam com mais vontade. Ou pelo menos fingem melhor. É claro que existem filmes héteros, lésbicos e gays bons e ruins; roteiros pobres e sofisticados; atores e atrizes ótimos, péssimos e medianos, como são os profissionais de qualquer área. Assisti-los não transforma ninguém em hétero, lésbica, gay, muito menos numa estrela pornô – infelizmente.

Beijar uma pessoa do mesmo sexo não torna ninguém gay. Transar com uma pessoa do mesmo sexo, tampouco. Uma experiência não determina nada.

É o envolvimento sexual e/ou romântico que se tem ou se pretende ter com alguém que pode indicar uma homo ou bissexualidade. Em um mundo ideal, nem precisaríamos usar esses rótulos "gay", "bi", "lésbica", mas infelizmente não vivemos num mundo ideal e a importância de assumir-se é política. Quem é homossexual precisa provar que existe pra ser visto como parte integrante da sociedade e merecedora dos mesmos direitos. Meio louco isso, né?

Um detalhe tão particular e íntimo ser capaz de causar tanto impacto na vida alheia! Entretanto esse já é um assunto pra conversarmos numa próxima.

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Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!