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"Bichinha poc poc, sapatona, Barbie": o bullying entre os homossexuais

Universa

01/11/2017 04h00

(Ilustração: Getty Images)

Ah, o preconceito! Ele chega de mansinho, se revela entre uma frase e outra, em pequenos gestos, e, quando menos se espera… VRÁ! Está lá escancarado como um leque aberto.

Toda vez que um homossexual diz que odeia as "bichinhas poc-poc", os jovens gays afeminados, uma lágrima de glitter escorre. Quando pede pra que Deus te livre da proximidade com as "sapatonas caminhoneiras", as lésbicas mais masculinizadas, um coturno se perde no vale dos homossexuais.

Quando comecei a frequentar baladas gays, lá nos anos 2000, ouvi tantos absurdos que morria de medo. "Cuidado com as travestis, porque elas são perigosas e quando se irritam dão duas giletadas em você!". "Em boate GLS só tem 'michê' e 'Barbie droguinha"', entre diversas outras coisas estapafúrdias. "Michês" são garotos de programa e "Barbie droguinha" é um termo pejorativo para gays malhados que curtem festas eletrônicas e são rotulados como usuários de drogas sintéticas.

O mundo mudou mesmo?

Naquela época a sigla era GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes), depois ficou mais abrangente e inclusiva em 2008, mudando para LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). Eu acredito que a mentalidade das pessoas tenha mudado um pouco de lá pra cá. Um pouco, pero no mucho.

Admiramos a coragem de personalidades que se assumem publicamente como homossexuais, mas somos capazes de julgar mentalmente as que são afeminadas ou masculinizadas "demais". Esquecemos que o fato de já ter sofrido algum tipo de preconceito não nos dá o direito ou a desculpa para perpetuá-lo de tantas outras formas.

Vibramos com o sucesso de drag queens e transexuais nas passarelas, em carreiras musicais e nas novelas, mas ainda olhamos torto para as que se prostituem nas esquinas – e não são poucas: segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), 90% das travestis e trans estão inseridas na prostituição.

Suicídio entre homossexuais

O pré-julgamento não só marginaliza e abre caminho para a violência nas ruas – no Brasil um LGBT é assassinado a cada 25 horas –, como induz ao autoextermínio.

Diversos estudos apontam que a discriminação e o senso de isolamento estão fortemente ligados ao comportamento autodestrutivo, o que torna os LGBTs 5 vezes mais propensos a cometer suicídio que o restante da população. Encarar as diferenças com um olhar mais terno e fraterno para além de um gesto de humanidade é uma questão de saúde pública.

*Para oferecer apoio emocional e prevenir o suicídio o CVV, Centro de Valorização da Vida, atende por telefone pelo número 141 e também via chat, Skype e presencialmente de forma gratuita e totalmente sigilosa. Saiba mais em cvv.org.br

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Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!