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Transei com homens, mas só fiz amor com mulheres

Angélica Morango

23/11/2017 12h45

Eu tinha 18 anos de idade quando fui pra cama com uma mulher pela primeira vez. Na verdade nem foi na cama, mas no sofá do apartamento de um amigo, no fim de uma festa, num dia em que eu nem estava pensando em sexo. Estávamos juntas há um mês. O espaço era grande, muita gente já tinha ido embora, o restante do pessoal estava no terraço e nós fomos até a sala abaixar o volume do som. Tínhamos tomado umas cervejas, tocava The Cure e eu não era virgem.

Foi tão inesperado quanto memorável. Depois namoramos por dois anos, mas vivíamos fases muito diferentes. Ela tinha acabado de se formar na faculdade, eu estava começando.

A minha primeira transa tinha rolado bem antes, com um namorado, numa época em que eu já me sentia lésbica, mas achava que precisava fazer uns testes pra ter certeza. Gosto de experimentar, e essa é uma característica da minha personalidade, não tem a ver com ser homossexual, muito menos significa que toda lésbica ou todo gay tenha que viver um relacionamento hétero em algum momento da vida. Fiz porque quis.

"É lésbica porque nunca transou com homem"

Perder a virgindade foi exatamente como eu imaginava, e não foi ruim ou traumático. Com ele eu namorava há meses, tivemos um dia legal na piscina do clube, depois fomos ao motel. Comemos bombons depois. Tenho uma lembrança boa do que marcou o começo da minha vida adulta e sexual. Foi tudo com calma, paciência, segurança e camisinha.

Não tive um orgasmo nesse dia, mas tive em todas as outras vezes em que transamos, e inclusive nas vezes em que transei com outros caras, por isso as frases do tipo: "Ah, é lésbica porque nunca foi pra cama com um homem" ou "É sapatão porque foi mal comida" batem no meu passado super bem resolvido e voltam cintilando pra iluminar as almas dos preconceituosos.

Se não havia nenhum problema em fazer sexo com homens, então por que ficar com mulheres? Porque sempre tive vontade. Posso tentar explicar dizendo que é porque acho a boca mais macia, o beijo mais molhado e suave, o corpo mais sexy, a voz mais excitante, e listar diversos outros motivos, mas quem não sente atração por mulheres não entenderia.

Sexo é tipo chocolate

Já que somos livres pra transar com homens e mulheres e uma vasta gama de possibilidades entre um e outro, vamos imaginar que sexo é chocolate: meio amargo, branco, ao leite, com frutas, com cereais, vegano… Mesmo podendo escolher vários, sempre temos um preferido. E há quem nem goste dessa iguaria, e tudo bem. Se o meu chocolate favorito é um com castanha-do-Pará, porque é que eu passaria o resto da vida comendo aqueles com uva passa?

Levei um tempo pra entender que apesar de ter transado com alguns homens, só fiz amor com mulheres. E isso não tem a ver com movimentos mais bruscos ou delicados, porque não é o tipo de pegada que diferencia as coisas, mas aquela corrente de eletricidade que passa pelo corpo e deixa uma marca em cada celulazinha. Gozar é físico, fazer amor é transcendental.

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Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!