Como sufoquei o monstro do ciúme
Universa
06/03/2018 04h00
Passei uma noite em claro com as mãos trêmulas e o coração acelerado. Maquiavélico e nauseante, o motivo repousava no travesseiro ao lado, num sono profundo e inabalável: meu ciúme.
Somos naturalmente ciumentos. Desde pequenininhos. Queremos exclusividade, atenção, e nutrimos com uma das mãos a vontade de estender para sempre as sensações de prazer e contentamento que algo ou alguém nos proporciona. Com a outra, alimentamos o medo da perda. Crescer não nos blinda dos monstros que alimentamos distraidamente. Estamos sempre nus aos sentimentos.
Umas poucas frases atravessadas no dia anterior tinham sido suficientes pra me encher de suspeitas. Acreditando no sexto sentido feminino –que não é infalível– fui fazer umas "pesquisas" nas redes sociais. Traduzindo em bom "ciumês", fui stalkear, procurar indícios que validassem minhas suspeitas de traição. Porque, sim, o ciúme cega e, nessas horas, não há interesse na descoberta da verdade, mas no que acreditamos piamente que seja a verdade. Quanto mais descia a barra de rolagem, mais colérica ficava. Um incêndio acontecia em mim.
Aos primeiros sinais de sol, recorri à única possibilidade disponível antes das seis da manhã: o Google. Lá, em meio segundo, a palavra "ciúme" foi apontada em mais de três bilhões de resultados. Três bilhões! Só a multiplicidade de respostas já me anestesiou um pouco.
Passei os olhos por alguns artigos e encontrei um ponto-chave nas opiniões de diversos especialistas: o combustível do ciúme é a insegurança. E o oposto da insegurança é a autoconfiança. Logo, não existia a necessidade de nenhum plano mirabolante, mas foco no que realmente importava, ou melhor, em quem.
É humanamente impossível (além de completamente desnecessário) vigiar cada passo e interação social de quem nos relacionamos. Não existem garantias de fidelidade ou amor eterno.
Nenhuma certidão de casamento ou qualquer outro tipo de contrato é capaz de assegurar paixão ou felicidade. Promessas e papéis podem ser descumpridos a qualquer momento.
A solução mais equilibrada, portanto, é investir o tempo que seria gasto com deduções em diálogo, e o desperdiçado com o monstro do ciúme, em atividades que tragam bem-estar e promovam o desenvolvimento pessoal. Poucas características são tão afrodisíacas e fatais quanto a autoconfiança.
Sobre a autora
Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.
Sobre o blog
Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!