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"Um dos meus melhores amigos foi espancado na Rua Augusta"

Universa

27/05/2018 04h00

Crédito: iStock

Um dos meus melhores amigos já foi espancado na Rua Augusta, a rua mais cosmopolita de São Paulo. Numa região friendly repleta de bares, teatros, restaurantes e hotéis, era difícil imaginar o perigo iminente de uma agressão gratuita. Na ocasião, meu amigo, que é gay, voltava de uma balada com seu cunhado, que é heterossexual. Caminhar lado a lado foi suficiente para que um grupo de seis skinheads os atacasse com socos, chutes e pauladas. O motivo: os selvagens acharam que eles eram namorados. Mas e se fossem???

Os dois sofreram cortes e escoriações no rosto e no corpo, foram hospitalizados e, felizmente, não ficaram com sequelas físicas. O trauma emocional perdura. E o que aconteceu com eles não é uma exceção: mais da metade dos paulistanos (51%) já vivenciou ou presenciou situações de preconceito contra pessoas LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e outros gêneros) em espaços públicos. O dado, alarmante, foi obtido pela pesquisa "Viver em São Paulo: Diversidade" e divulgado essa semana pelo grupo Rede Nossa São Paulo.

Mulheres são mais favoráveis a questões LGBT+ que homens

A pesquisa, que mapeou as opiniões dos paulistanos, revela ainda outras informações importantes e aponta que "o grupo mais favorável a questões relacionadas à população LGBT+ é composto por mulheres, mais escolarizadas, com renda familiar de mais de 5 salários mínimos e com idade entre 25 e 34 anos. Na outra ponta, o perfil predominante no grupo dos contrários é composto por homens, menos escolarizados, com renda familiar de menos de 2 salários mínimos e com mais de 55 anos". A "Viver em São Paulo: Diversidade" entrevistou 800 pessoas maiores de 16 anos e foi realizada entre os dias 5 e 22 de abril de 2018.

O momento para a divulgação dos resultados da pesquisa não poderia ser mais oportuno: faltam poucos dias para a Parada do Orgulho Gay de São Paulo, a maior passeata LGBT+ do mundo – no ano passado os organizadores estimaram um público aproximado de 3 milhões de pessoas.

Parada politizada

Um texto publicado na página da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOLGBT SP), ONG responsável pela realização da Parada do Orgulho Gay na cidade, explica o tema do evento deste ano "Poder para LGBTI+, Nosso Voto, Nossa Voz" e alerta para a importância da conscientização na escolha de políticos que representem a causa: "Estamos vivendo um momento em que é imprescindível nos colocarmos contra um discurso cheio de preconceitos e ódio, utilizado por políticos mal intencionados. Eles usam a velha retórica de proteção dos valores da família, da moral e dos bons costumes como se nós fôssemos contra a família ou religião. (…) A falta de representatividade com compromisso, ética e responsabilidade faz com que a corrupção se instale, direitos sejam cassados, lutas por mais cidadania sejam sufocadas e crimes de ódio contra LGBTI continuem impunes."

A Parada do Orgulho Gay de São Paulo acontece no próximo domingo, 3 de junho. O evento não é um Carnaval fora de época. É uma manifestação política com cara de festa. Porque uma manifestação política não tem que ser sizuda, nem cinza. Lá reivindica-se direitos, justiça, respeito. Expressa-se amor. Toma-se a Avenida Paulista e outras ruas adjacentes – incluindo a Augusta – por visibilidade e para celebrar um grande encontro: não de pessoas LGBT+, mas de pessoas, apenas.

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Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!