O que ninguém (nem a Cleo Pires) fala sobre sexo
Universa
27/08/2018 04h00
A cantora Wanessa declarou que fez sexo em alto-mar no jet ski, e centenas de sites repercutiram a informação na semana passada. Li um comentário sobre o assunto que era: "Pronto! Está aberta a Copa Cleo Pires de sexo". Eu ri. A Cleo é a "musa" dessas revelações. Por curiosidade, digitei no Google "Cleo Pires revela ter feito sexo…" e uma miríade de matérias detalhavam os fatos: "a três e em lugar público", "nos camarins da Globo", "com algemas" e por aí vai.
Exposição positiva?
Isso é bom? De certa forma, sim. O que pode soar como fofoca é libertador, sugestivo, instigante. Mas será que quem nunca transou em alto-mar, num jet ski, a três, num camarim da Globo, com algemas etc, pode ser tão incrível na cama quanto as mulheres que expõem suas intimidades parecem ser?
Já transei no carro e em lugares públicos, e o que senti não chegou nem perto do prazer que tenho quando transo na cama, onde me sinto segura e confortável. Experimentei muitas coisas até descobrir o que realmente gosto – ou não.
Anal não é tabu (nem unanimidade)
Uma vez, à toa, comecei a contar quantas posições sexuais eu já tinha feito. Vinte e sete. Contabilizando as variações, claro. Sexo oral deitada, uma; em pé, duas, e assim por diante. Fiz sexo anal algumas vezes, com mulheres. Achei gostoso, entretanto, pelo menos pra mim, o frisson não é pela sodomia em si, mas pelo que ela representa: poder. Dominação ou submissão extremas. Sexo anal, aliás, não é unanimidade nem entre os meus amigos gays. Consultei cinco, pelo WhatsApp, com a pergunta "Sexo anal é bom pra você? Por quê?" e as respostas divergiram:
"Sou mais ativo, mas dependendo do boy eu gosto. Mas a preparação pra fazer anal é muito trabalhosa e humilhante."
"Antes eu não me sentia à vontade sendo passivo, sentia dor, depois descobri um gel e achei maravilhoso!"
"No começo sinto um desconforto muito grande. A penetração em si tem que acompanhar outras coisas, uma preliminar e até uns tapinhas são bem-vindos…"
"Sempre senti dores, mesmo com lubrificantes, posições diferenciadas… Sempre achei os primeiros minutos a morte! Gosto de sexo oral e masturbações."
"No início era algo mecânico, sentia muita dor. Com o tempo aprendi que só devo fazer quando a química for boa e quando eu sentir segurança no parceiro. 'Tô' meio que 'namorandinho', então 'tô' naquela fase em que o sexo tá incrível!"
Mais anal, porque tá pouco…
Falando tanto em anal, lembrei da Sandy. "É possível ter prazer anal", foi a declaração numa entrevista há sete anos. Sete. O tempo voa, né?! Naquela época eu nem sabia da possibilidade de casais heterossexuais fazerem anal com a mulher penetrando o homem – o nome dessa prática é "inversão". (Não que a Sandy faça, não sei.)
Mas tem um filme, "Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos", com Caio Blat e Maria Ribeiro, sobre um casal em crise de relacionamento e com sentimentos ambíguos, em que rola uma cena bem interessante de inversão. Não vou contar detalhes pra não dar spoiler, mas vale a pena.
…até chegar ao que ninguém fala sobre sexo, que é:
Ler, ouvir, assuntar, por fruição da arte ou por mera curiosidade sobre a vida alheia, é importante para ampliar nosso "acervo de possibilidades". Se a grama do vizinho é mais verde ou se a cama é mais quente que a nossa, nunca saberemos – e isso nem é relevante. O desafio é conhecer exatamente qual o tom de verde da grama e qual a temperatura de cama (de água do mar, de lugar público, de camarim) mais nos agrada.
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Sobre a autora
Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.
Sobre o blog
Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!