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Vamos conversar? Ainda dá tempo

Universa

27/10/2018 22h01

Registro que fiz na "Marcha Mundial das Mulheres contra Bolsonaro", em São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)

Sofri muito bullying na escola por não ser feminina. Isso começou por volta dos meus sete anos de idade e só parou na adolescência, aos 15. Mas de acordo com uma declaração recente do candidato neofascista dessas eleições – branco e cisgênero – bullying é "vitimismo, deveria parar de acontecer". Nas suas palavras, em sua época "quando o gordinho apanhava na escola ele revidava, hoje ele chora". Mais que sensibilidade, falta conhecimento a Bolsonaro. Há exatamente um ano, em Goiânia, um jovem de 14 anos que sofria bullying descarregou uma pistola em sala de aula. Matou dois colegas, feriu quatro. Um mês atrás, um atentado semelhante aconteceu em Medianeira, no Paraná: um aluno de 15 anos atirou contra outros estudantes, ferindo dois – um com gravidade.

Metralhadora de polêmicas

Bolsonaro cavou seu espaço na mídia sendo uma metralhadora de polêmicas. Batia ponto no extinto CQC, da Band, e estava sempre esquentando as cadeiras do Superpop, da Rede TV!, numa estratégia que, como se vê, funcionou.

Em 28 anos como deputado federal, teve aprovados dois projetos. Virou lei uma proposta que autorizava o uso da chamada "pílula do câncer", a fosfoetanolamina sintética; e outra que estendia o benefício de isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para bens de informática. Apenas.

Admirador do coronel Ustra – um dos carrascos da ditadura no Brasil, acusado de cometer pelo menos seis assassinatos sob tortura –, Bolsonaro é uma fonte ilimitada de declarações rascistas, machistas, misóginas e homofóbicas:

"Fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Nem pra procriador ele serve mais."

"Mulher deve ganhar salário menor porque engravida."

"Deus acima de tudo. Não tem essa historinha de Estado laico, não. O Estado é cristão e a minoria que for contra, que se mude. As minorias têm que se curvar para as maiorias."

"Não vou combater, nem discriminar, mas se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater."

Defendendo o indefensável 

As barbaridades proferidas por esse senhor de 63 anos de idade não me chocam mais, porque sua extrema falta de empatia, pra dizer o mínimo, não é nenhuma novidade. O que tenho observado, perplexa, são as justificativas de alguns de seus apoiadores.

"Temos um candidato polêmico, que deve ter se arrependido de algumas frases que soltou no passado, mas com certeza tem boa vontade, é correto e está com boas ideias para o Brasil", expôs o empresário Roberto Justus.

"No PT eu jamais votei e nunca vou votar, isso é fato. O Bolsonaro, levantei os problemas e, sim, acho que as pessoas podem amadurecer. É uma chance de ouro, né? De ressignificar a política no Brasil", disse o apresentador Luciano Huck.

"Um homem dos anos 1950, como meu pai", relativizou Regina Duarte (Foto: Reprodução/Instagram)

"Quando conheci o Bolsonaro pessoalmente, encontrei um cara doce, um homem dos anos 1950, como meu pai, e que faz brincadeiras homofóbicas, mas é da boca pra fora, um jeito masculino que vem desde Monteiro Lobato, que chamava o brasileiro de preguiçoso e que dizia que lugar de negro é na cozinha", relativizou a atriz Regina Duarte.

Vamos conversar?

Não sei a que "boas ideias" Roberto Justus se refere, porque uma das propostas de Bolsonaro é a exploração de terras indígenas. Quando Luciano Huck fala que "as pessoas podem amadurecer", não entendo como isso poderia servir para o candidato em questão, já que suas manifestações polêmicas são as mesmas há décadas e sua atuação em 28 anos como deputado federal não ressignificou nada na política brasileira. Sobre a decepcionante declaração de Regina Duarte, bem, está em consonância com as falácias de quem não sofreu com a escravidão e com a ditadura por ter uma posição privilegiada – e querer mantê-la. "Nós queremos um Brasil semelhante àquele que tínhamos há 40, 50 anos atrás. Pode ter certeza que juntos chegaremos lá", bradou Bolsonaro, em uma entrevista recente.

A atriz Maria Casadevall e o jornalista Fefito foram alguns dos milhares brasileiros que foram às ruas conversar com eleitores indecisos, em São Paulo (Foto: Reprodução/Instagram @fefito)

"Conversando sobre liberdade", escreveu Letícia Colin, no Rio de Janeiro (Foto: Reprodução/Instagram @leticiacolin)

Há cabeças mais realistas, justas e humanas do lado de cá. Camila Pitanga, Leandra Leal, Letícia Colin, Mônica Iozzi, Emicida, Mano Brown, Ana Muylaert, Chico Buarque, Marieta Severo, Caetano Veloso, Maria Ribeiro, Joaquim Barbosa, Guilherme Boulos, Djamila Ribeiro, Fernanda Lima, Rodrigo Hilbert, Clarice Falcão, Gregório Duvivier, Luísa Arraes, Fábio Porchat, Felipe Neto, Patrícia Pillar, Rael, Marcelo Tas, Letícia Sabatella, Ziraldo, Maria Casadevall, Pabllo Vittar, Marcelo D2, Laerte e Marina Silva são apenas algumas delas, em sintonia com os ideais de milhões de brasileiros que acreditam que um futuro melhor para todos se constrói avançando, não retrocedendo.

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Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!