Topo

Morango

“Como vocês fazem na cama?”, minha pergunta a um casal de drag queens

Universa

08/06/2018 04h00

"Se vocês se 'pegam' assim, então quer dizer que vocês são gays e lésbicas ao mesmo tempo?", foi a pergunta a um casal de drag queens que admiro e com quem tenho intimidade para tirar, em tom de brincadeira, uma dúvida como essa, um tanto indiscreta. Entre gargalhadas, elas responderam, quase que de forma uníssona: "A gente nunca se pegou 'montada'!".

Os dois namorados são empresários e, quando se "montam", ou seja, se produzem para as apresentações, se transformam em mulheres lindíssimas. E isso despertou minha curiosidade sobre o que rola – ou não – na cama das drag queens.

A resposta delxs sobre nunca terem transado enquanto estão super trabalhadxs no glitter e no laquê tem um fundamento prático: é necessário empregar toda uma técnica para "esconder a 'neca'", ou seja, acomodar o pênis de forma que ele não seja percebido no maiô, na calcinha ou no body cheio de pedrarias e paetês durante os shows. E, sim, isso pode doer um pouco. Quando o espetáculo acaba e o trabalho se encerra, os dois voltam à rotina cotidiana em suas roupas sóbrias no salão de beleza que possuem no interior de São Paulo.

10 perguntas que você sempre quis fazer a uma lésbica

A regra é clara: só viado e sapatão pode se chamar de viado e sapatão

"Sensação libertadora"
Em Brasília, o estudante de Teatro Gustavo Kobolt, 20, interpreta a drag queen Brenda Max há quatro meses. "Comecei porque acredito no conceito de drag como arte, além de ser uma forma de desconstrução de padrões que a sociedade impõe. Quando você se 'monta' é visto e tratado de forma diferente, como se estivesse na linha de frente o tempo todo. É uma sensação libertadora, porque você tem infinitas possibilidades de explorar e fazer várias coisas. O universo drag é isso, você vê a realidade de onde você está de outra maneira."

Brenda Max (Foto: Arquivo Pessoal)

Sobre transar produzido como Brenda Max, Gustavo, que já ficou com outro rapaz que também é drag queen, diz não ter feito, mas não descarta essa possibilidade no futuro: "Quem sabe, né? Não custa tentar. Tendo oportunidade e consentimento de ambas as partes, tudo pode acontecer."

O publicitário Thiago Carvalho já deu vida à sua criação, Victoria Wullcany, por duas vezes. Quando perguntei se ele já tinha levado a personagem pra cama – sem ser para dormir – a resposta veio rápido: "Eu não sou drag, só brinquei de ser. Quando me 'montei' me senti outra pessoa, um personagem mesmo. Eu não faria coisas que a Victoria tem coragem. Sempre foi por trabalho, e no final da noite você não consegue mais andar (risos)! Mas falei pro meu namorado que vou me montar só pra transar com ele, fiquei curioso. Ele disse que quer! Fiquei chocado!"

Victoria Wullcany (Foto: Arquivo Pessoal)

História drag
A história de homens interpretando mulheres remonta à Grécia Antiga, no século VI a.C., quando o teatro tomava forma, e aconteceu de diferentes maneiras no ocidente e no oriente ao longo do tempo. O ato de se produzir – ou se "montar" – sempre foi carregado de significados artísticos e políticos, é diverso e está em constante mutação.
Há drag queens que adotam um estilo kitsch (brega), debochado e cômico; outras que assumem uma persona mais feminina e sensual. Por trás dessas escolhas existem motivos artísticos, profissionais ou puro hobby.

Não há regras
Existem homens gays que são drag queens. Héteros que trabalham como drag queens ou se "montam" eventualmente – o apresentador Rodrigo Hilbert já o fez uma vez, no programa Amor e Sexo, da Globo. E há também mulheres drag queens e drag kings (artistas performáticas que representam personagens masculinos). Nos palcos não há regras. Nem na cama.

Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!