O "black Twitter" e a revolução da representatividade negra
Em uma de suas redes sociais a fotógrafa Tauany Almeida fala, sem papas na língua, de sua rotina, sexualidade, e rebate ofensas racistas e misóginas. "Falo coisas óbvias, mas de um jeito engraçado – pra mim, pelo menos. Com isso as pessoas se identificam e aí é aquilo, né? Uma pessoa gosta, a outra retuíta e assim vai", conta.
"Feminismo branco não me contempla", "Dando unfollow em quem diz que Jay-Z é feio", "Minha mãe invade minha privacidade, lê coisas que não deveria e ainda fica brava" são algumas das postagens que ela intercala com fotos pessoais que recebem milhares de curtidas e comentários – nem sempre positivos. Até aqui, tudo bem comum à maioria dos jovens de 20 e poucos anos na internet, certo? Acontece que é assim que uma verdadeira revolução está acontecendo.
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"Black Twitter"
"O 'black Twitter' meio que aconteceu sem uma intenção. Eram só pessoas negras seguindo pessoas negras. Eu entrei no Twitter em 2010, e na época eu só seguia quem eu conhecia pessoalmente, mas há uns dois anos comecei a seguir mais pessoas negras de diversos lugares porque os tuítes dessas pessoas sobre negritude apareciam na minha timeline. E acabou que virou um grande 'clubinho'", resume Aretha Soyombo, estudante de Letras da UFMG.
"Quando eu tinha 14 anos eu assinava a Capricho e, sem dúvida nenhuma, aquela revista não era pra mim. Lembro de uma matéria que me marcou muito que era 'Como ter o liso perfeito'. Eu nunca vou ter o liso perfeito, sabe?! E hoje eu sinto que por mais que às vezes pareça uma obrigação, ou porque a representatividade de todas as minorias esteja na moda, eu sinto que aumentou muito! E isso é muito importante porque a minha prima de 11 anos cresce se vendo mais na mídia. Mais do que eu me via", comemora Aretha.
A revolução
Não é apenas no Twitter, que possui mais de 40 milhões de usuários só no Brasil, que essa revolução fundamentada na representatividade acontece. No Instagram, rede social com mais de 50 milhões de brasileiros conectados, também. "As coisas estão mudando, principalmente depois que a internet começou a abordar e a pressionar essas questões, já que ela tem funcionado como uma praça pública", expõe a carioca Andressa Vasconcelos, assessora de marketing digital, que utiliza a rede de compartilhamento de fotos para se posicionar politicamente.
Preconceito nas redes e nas ruas
Um dos assuntos mais debatidos nas redes é o preconceito: "Acho que todas as ativistas pretas e até mesmo quem não tem nenhuma ligação com o ativismo, mas é ativo nas redes sociais passa por isso. Passei e ainda passo, na verdade. Hoje me acostumei com os xingamentos e com ataques racistas, mas passei a ignorar, o que não é positivo", pondera Andressa.
"O preconceito é muito grande nas redes sociais. Na rua é uma coisa mais velada. A pessoa olha feio, às vezes rola uns gritos do nada como 'seu cabelo é duro' e coisas do tipo, mas na internet é bem pior", reforça Tauany, que critica o "racismo reverso", que é a ideia de que há racismo de negros contra brancos: "A questão não é acharem ofensivo, é que querem comparar a uma opressão que os negros sofrem desde a escravidão e que tem impacto ainda hoje. Acham que ser chamado de branquinho é equivalente a ser chamado de macaco, por exemplo, entre outras ofensas racistas".
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