"Em defesa da família": a diferença gritante entre o discurso e a ação
Bastam cinco minutos em frente à TV durante o horário eleitoral gratuito para testemunhar o enfadonho desfile dos baluartes da "moral" e dos "bons costumes". Muitas vezes paramentados com uma Bíblia, eles prometem lutar "em defesa da família". Enquanto assisto, uma dúvida espinhosa me arrebata: de que família estão falando?
No último sábado (29), em uma das manifestações contra o candidato à presidência Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro, uma família que participava do ato chamou a atenção. Sorridentes, a advogada Talita Menezes e seu filho Rafael, de 15 anos, posaram para uma foto. Nada incomum, não fosse um detalhe: o apoio declarado de Talita à orientação sexual do filho, que é assumidamente gay.
No fogo cruzado entre o ódio e o amor gerado na internet, o advogado Fabio Pereira, marido de Talita e pai de Rafael, saiu em defesa de sua família:
"Estamos recebendo inúmeras notificações sobre a foto na manifestação em que a minha esposa e o meu filho aparecem com afirmação de "Viado" e "Mãe de Viado" na testa.
A maioria das mensagens são de orgulho, pertencimento, carinho (…) ademais, estamos recebendo mensagens odiosas, de gente que falou até que minha esposa seria um 'lixo de mãe' e que eu 'choro no chuveiro'! Para essas pessoas o que tenho a dizer é que sua fobia lhe cega a verdade: você tem horror ao diferente do seu padrão!
Minha família propaga o amor, o afeto e possui valores de solidariedade e de muita dignidade. Sou orgulhoso do filho gay que eu tenho, e tenho satisfação de dizer que sou PAI dessa linda pessoa. O mesmo é talentoso, inteligente, responsável e, principalmente, amado por todos em sua família!
O mundo é horroroso e, como pai, me preocupo com a forma como podem atingi-lo, mas de forma alguma educarei meus filhos para serem medrosos e covardes! Se você vê anormalidade nisso e acha que a gente tem que mudar, desculpe, mas você tem sérios problemas de aceitar que o amor pode e deve se manifestar de várias e múltiplas formas.
Juntos somos fortes e mais unidos no amor que nunca!
Amor acima de tudo!"
Um dos comentários na postagem, que em dois dias teve mais de 184 mil curtidas e 41 mil compartilhamentos no Facebook, foi o do internauta Mauro Palhares: "Parabéns! Meu filho é heterossexual (até o momento), mas quando ele fez 15 anos conversei com ele e disse que se um dia ele sentisse que a orientação sexual dele fosse por pessoas do mesmo sexo, poderia se abrir e contar comigo. Está na hora de acabar com os preconceitos. Todos."
Em defesa da família?
Bolsonaro é um dos políticos que dizem estar em defesa da família. Teve três filhos no primeiro casamento, um filho no segundo e uma filha no terceiro e atual relacionamento. "Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, aí no quinto eu dei uma fraquejada e veio uma mulher", declarou ele, um ano atrás. Há apenas duas semanas foi a vez de seu vice, o general da reserva Hamilton Mourão, destilar mais machismo e misoginia dizendo que "famílias sem pais e avôs, só de mães e avós, são 'fábricas de desajustados'".
Mais amor e coerência, por favor
Família, no dicionário Houaiss, é um "núcleo social de pessoas unidas por laços afetivos, que geralmente compartilham o mesmo espaço e mantêm entre si uma relação solidária". Em defesa da família vejo a Talita, o Fabio, o Mauro e todas as outras pessoas que pavimentam o caminho do amor com tolerância e respeito. Políticos e seus séquitos têm aqui bons exemplos para se inspirarem – mas caso acreditem que enxergar para além do próprio umbigo seja uma tarefa sacrificante demais, poderiam, ao menos, exercitar a coerência.
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