Elas se conheceram em um grupo de gestantes no Whatsapp e se apaixonaram
"Criar trigêmeos não é tão mais difícil que criar um filho só. A gente tem o mesmo trabalho, vai ficar sem dormir do mesmo jeito… O que difere são os gastos, três vezes mais altos, com leite e fraldas. A parte boa é que é amor triplicado. Posso estar cansada, esgotada, o que for; eles me dão um sorriso e tudo muda completamente", derrete-se Lorrany Figueiredo, a Low, pelos trigêmeos Benício, Samuel e Vicente, de 2 anos e 4 meses. O sonho da estudante de direito era ser mãe.
"Em 2010 eu e minha esposa firmamos uma união estável. Em 2014 nos casamos no religioso, vestidas de noiva. Um pastor celebrou a cerimônia. Sou de uma igreja inclusiva, a Igreja Cristã Contemporânea, que aceita todos, sem preconceito. Os planos eram, depois do casamento, ter o nosso filho – a gente achou que fosse ter um só. Em 2015 começamos o tratamento, fiz a inseminação", conta.
Mães de trigêmeos no Whatsapp
Com a surpresa da gravidez múltipla vieram as dúvidas, os medos e muitas aventuras. Lorrany, que é do Rio de Janeiro, passou a integrar um grupo formado por mais de cem mães e gestantes de trigêmeos que trocavam informações e confidências no Whatsapp. Foi aí que seu destino se cruzou com o de Damares Cerqueira, de 32 anos, de São Paulo.
Heterossexual, casada, Damares encontrou no grupo um ponto de apoio, mas decidiu sair dele logo depois de testemunhar uma ofensa à amiga: "Uma vez ouvi um comentário desagradável e preconceituoso no grupo, e tomei as dores pela Low, que se bem me lembro era a única pessoa em um relacionamento homoafetivo. Fizemos um grupo menor e nossa amizade ficou mais próxima. Ali a gente falava de tudo, dos medos e anseios às expectativas com a chegada dos trios, e até desabafos sobre os relacionamentos." À época, o casamento da paulistana já estava perto do fim.
"Quando meus filhos estavam com dez meses de idade, em consenso com meu ex-marido, chegamos à conclusão de que o casamento havia acabado, e que os filhos não eram motivos para insistir em algo que já não tinha significado. Não foi de uma hora pra outra. Foram anos desgastados e a decisão foi o divórcio", explica ela.
"Eu não podia mais conter o amor que não parava de crescer"
Quase um ano após o divórcio de Damares, Lorrany também se separou, o que estreitou os laços entre as duas. "Apesar da distância física, a Low sempre esteve ao meu lado. Acompanhou cada ultrassom, o nascimento dos meus filhos, até os problemas de saúde que tive. Eu recebia o carinho e o apoio dela mesmo de longe. Eu a amava muito como amiga, mas pra mim esse amor havia mudado. Tive medo de dizer algo que estragasse a amizade que havíamos construído. Acabei decidindo arriscar e a beijei. Morri de medo do que aconteceria dali pra frente, mas eu não podia mais conter o amor que não parava de crescer", entrega Damares.
Juntas há sete meses, elas driblam os 439 quilômetros de distância que as separam a cada duas semanas, quando se encontram. Os momentos em família o casal #DaLow compartilha no Instagram, o @dalow439km, com mais de sete mil seguidores.
Para Damares, a liberdade para viver e expor a história de amor com Lorrany já é uma grande conquista: "Vim de uma criação muito religiosa, mas preconceituosa. Tive que enfrentar um processo interno primeiro, me entender e aceitar o que eu sentia. Feito isso, a opinião alheia passou a ser menos relevante. Claro que existem comentários que machucam profundamente, principalmente vindos de sua família, mas não os culpo, nem guardo ressentimentos. Decidi não permitir que ninguém decida o que é melhor para mim. Hoje me sinto em paz amando e sendo amada. Nossos filhos são pequenos para entender algumas coisas ainda, mas pretendo criá-los com liberdade e mostrar a eles que amor é amor.".
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