Brenda, um cara trans fora da curva: "Estou hétero, mas não sei amanhã"
"Oi, aqui é a Brenda" – é assim que Brenda Oliveira, de 23 anos, se apresenta. Um pouco excêntrico? Talvez. Mas essa é uma das marcas desse goiano transexual, estudante técnico de enfermagem: "Vou manter meu nome de registro. Gosto do que ele causa nas pessoas e de me expor como eu realmente sou".
Comento que lembrei de Tereza Brant, modelo e ator trans, que depois de alguns anos trocou de nome, escolheu Tarso. "Isso foi pressão pelo próprio meio trans, a maioria sofre essa pressão e esse rótulo imposto. Eu sou trans, mas não convivo no meio. Tento ajudar quem precisa de ajuda, porém não fico muito com a galera, sou mais na minha", rebate Brenda.
Recusando rótulos e papas na língua, ele comenta que nunca sofreu preconceito, nem enfrentou nenhuma situação constrangedora: "Às vezes fazem brincadeiras, mas eu venho com brincadeiras piores e a pessoa já toma um rumo, sempre na linha da amizade. Eu não sei se é pela vizinhança onde eu moro, ou porque sou todo escrachado e animado pra conversar, mas as pessoas têm certa admiração ao invés de preconceito", conta.
Banheiro masculino ou feminino?
"Já entrei em banheiro masculino, é nojento, eu nunca mais quis! Entro no feminino. Arrumei uma função pra minha mãe e amigas: a 'amiga de banheiro', pra confirmar que eu realmente sou menina. Se chego entrando, a amiga de banheiro confirma. As pessoas se chocam, mas respeitam", explica Brenda.
Na carteira de identidade, ele tem a foto como menina e, na de habilitação, uma atual, e diz nunca ter tido problemas ao apresentá-la: "O pessoal olha meio desconfiado, mas é normal".
No Instagram, onde tem mais de dez mil seguidores, ele diz ser muito paquerado, apesar disso, não está namorando. "Hoje sou assediado, mas quando era mulher, eu não chamava atenção nenhuma. Sempre fui muito calmo pra relacionamento. Flerto, mas tomo cuidado com quem me envolvo, porque costumo me apegar, infelizmente. As pessoas querem relações, mas param na primeira barreira, desistem muito fácil. Reciprocidade tá difícil hoje em dia, ter sintonia e tal".
"Sexo lésbico"
Brenda já se envolveu com homens, mas hoje se considera heterossexual e se diverte contando sobre as mulheres – todas heterossexuais – com quem já transou: "Você sabe como é uma mulher aprendendo a lidar com o corpo de outra. É muito bonitinho ter que ensinar! (risos) É pura magia, parece que são virgens! Fala que não é legal?!" Ele lembra ainda que há dois anos, na época em que começou a transição (hormonal, ele ainda não retirou o útero, nem as mamas "sequei com dieta e academia"), fazia "sexo lésbico", sem usar próteses penianas: "Pra mim não alterou muita coisa, não. Nunca tive disforia (mal estar) com o meu órgão. Só não sou fã de penetração".
"Sou hétero, mas não sei o dia de amanhã"
"Alguns trans têm disforia, principalmente aqueles que não atingiram o objetivo de ter o corpo totalmente masculino. O que eu mais recebo no Instagram são perguntas de gays sobre isso, se sou trans hétero, bi ou gay, pra depois perguntarem se sou ativo ou passivo. Eu sou hétero, mas não bato no peito porque vivo em uma sociedade em que não sei o dia de amanhã, meio que aprendi a gostar de caráter com o passar dos anos. Não sinto atração por homens, mas acho que eu posso me apaixonar um dia por um, ou por uma mulher trans, por um garoto trans também… Não sei porque realmente não sei como vou estar daqui a alguns anos", finaliza.
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