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Qualquer mulher tem o poder de fazer outra gozar? Os mitos do rolê lésbico

Universa

20/04/2019 04h00

"Duas mulheres com desejos comuns devem se dar muitíssimo bem, não é mesmo?!" (Foto: Arquivo Pessoal)

Se tem uma pergunta tão enigmática quanto "de onde viemos e para onde vamos?" é essa: "como não sofrer no rolê lésbico?". E a dúvida tem um fundamento mais ou menos lógico, afinal, duas mulheres com desejos comuns devem se dar muitíssimo bem, não é mesmo?! Bom, por incrível que pareça, não. Não é.

Já ouvi algumas heterossexuais comentarem, em tom de brincadeira, que se gostassem de mulher tudo seria mais fácil. Eu rio com muitos "kkk". E cada "k" é uma lágrima. Já sofri horrores por mulheres. Seres humanos, de modo geral, são caixinhas de surpresas, e a graça – ou a desgraça – é justamente essa.

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O mito

Um dos maiores mitos do rolê lésbico é a ideia de que qualquer mulher do mundo tem o poder sobrenatural de fazer outra gozar em segundos com o sexo oral mais incrível da vida! Você quer uma verdade, @? Então toma: nem toda mulher curte sexo oral. Umas não gostam de fazer, outras só gozam com penetração, e a lista de preferências pode ser tão extensa quanto a de possibilidades. Mas, claro, a questão não é só sexo.

"Desilusão, desilusãaao…"

Sabe quando você sente que encontrou o amor da vida? Ela tem o sorriso lindo, um senso de humor incrível e é super inteligente? Não bastassem esses predicados, é uma delícia na cama e parece adivinhar os seus pensamentos. E ainda tem mais: você nem vai precisar vender um rim pra pagar passagens, porque ela mora bem perto. Parece bom demais pra ser verdade? Mas é. Até que, num lampejo intuitivo, você pensa que "se está fácil, está errado". E então, despencando das nuvens, descobre que ela:

a) está confusa quanto à própria sexualidade
b) ainda é apaixonada pela ex
c) enfrenta um conflito familiar por ser lésbica ou bissexual
d) planeja se mudar para os confins da Terra
e) não gosta tanto assim de você
f) detém um combo do inferno com todas as opções anteriores

Já vivi essas situações diversas vezes e não sei qual delas é mais dilacerante. E essa afirmação parece, até mesmo pra mim, bem absurda. Como assim, "diversas vezes"?! Uma, duas, três experiências desgastantes não bastam pra ensinar alguma coisa? Não. É como se a memória e o coração fossem zerados ao fim de cada história. Mas não assim, do nada, sem umas crises de choro e outras de raiva.

Então é inevitável sofrer no rolê lésbico? Eu diria que sim. Mas é maravilhoso também.

Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!