Topo

Morango

Bissexuais, elas gostam de dominar mulheres e ser submissas aos homens

Universa

19/06/2019 04h32

"Percebi que era bissexual aos 16", conta a modelista Jaqueline Barros (Foto: Arquivo Pessoal)

"Como escolher? Sou uma só e os desejos, dois", escreveu Safo, célebre poetisa grega que viveu na ilha de Lesbos por volta de 600 a.C. Seria este um indício da bissexualidade (controversa) de Safo ou apenas inspiração e arte? Provavelmente nunca saberemos, já que muito de sua obra se perdeu e sua história se confunde com a de outras mulheres que viveram na mesma época. O "dilema" continua atual, mais de dois milênios depois. Como escolher entre dois desejos? Quando o assunto é sexualidade, há quem, ao invés de eleger um ou outro, opte por ambos.

Bissexuais, três mulheres abrem o jogo e revelam o que preferem fazer com os homens e o que adoram com as mulheres – na cama.

"Com meninas até tentei ser passiva, mas não tinha tanto prazer quanto sendo ativa"

"Eu percebi que era bi bem cedo, aos 16. Sabia que gostava dos homens, mas também das mulheres, e isso sempre foi muito confuso. Na adolescência, quando soube por um amigo o que era ser bissexual, me vi completa. Tive as minhas primeiras experiências sexuais com meninas, pra depois ter com meninos. Com meninas até tentei ser passiva, mas não tinha tanto prazer quanto sendo ativa. Com meninos, gosto que eles conduzam tudo, que dominem a situação", entrega a modelista Jaqueline Barros, 28, de São Paulo.

"Não que eu não faça a passiva com mulher, gosto também, mas o que me faz ferver é realmente ser mais ativa", diz Bruna (Foto: Arquivo Pessoal)

"No sexo com mulher eu tomo a iniciativa; com homem, gosto de ser dominada"

"Descobri há três anos que sou bi. Tive um sonho erótico com uma amiga, que é lésbica assumida, e depois disso fiquei com vontade de ficar com ela, então tomei a iniciativa. Ela é mais passiva e ficamos juntas por oito meses. Depois dela tive outras, e com as mais ativas eu não tinha muito tesão. Saí provando todo tipo de mulher e saquei que gosto de mulher que fica de quatro na cama, que apanha, leva puxão de cabelo e pede mais. Não que eu não faça a passiva com mulher, gosto também, mas o que me faz ferver é realmente ser mais ativa. Com homem, o que me faz ferver é ser jogada na cama, virada até de cabeça pra baixo e concluir a história com anal. Passei um tempo tentando me entender, mas aí desisti e resolvi viver", conta Bruna Carlos, 28, biomédica, que diz preferir mulheres "bem femininas", que usem brincos grandes e salto alto, e homens másculos, peludos e de barba. "No sexo com mulher eu tomo a iniciativa, vou pra cima, gosto de dominar. Me satisfaço em ver gozar. Xingo, dou uns tapas… Com homem eu gosto de ser dominada", arremata.

"Na relação sexual entre duas mulheres rola uma entrega maior e mais cumplicidade. Com o homem é tudo mais rápido", pondera Ligia (Foto: Arquivo Pessoal)

"Para excitar outra, uma mulher precisa muito mais do que mostrar os seios ou usar uma roupa curta"

"Eu sempre fui muito tranquila em relação à minha sexualidade, entendi cedo que gostava tanto de mulher, quanto de homem. Já me questionei se eu não ficava com homens pela facilidade de convivência aos olhos da sociedade, mas com o tempo eu me encontrei e hoje sou muito bem resolvida. Eu gosto muito de dar prazer à mulher e vê-la sentindo prazer. Isso me excita muito. Acredito que na relação sexual entre duas mulheres rola uma entrega maior e mais cumplicidade. Acho que por isso eu amo ser mais ativa com mulher – mas gosto de ser surpreendida. Para excitar outra, uma mulher precisa muito mais do que mostrar os seios ou usar uma roupa curta, o que nos leva a ousar na criatividade, na performance… Já com o homem, parece que tudo acontece mais rápido. Muitas vezes o nosso orgasmo acontece com o nosso próprio toque, junto à penetração ou até mesmo depois que ele já teve o orgasmo. Não estou generalizando, até porque já tive boas experiências com homens. Acredito que a gente ainda precisa de muito para uma total desconstrução… Vivemos em uma sociedade machista, acho que isso se revela em determinados aspectos", reflete Ligia Alves, 29, de São Paulo.

A vida e a morte de Safo

Exaltada e execrada, a poetisa foi retratada de várias formas ao longo do tempo. É por Safo e pela escola de artes para mulheres fundada por ela em Lesbos (e por toda sorte de boatos que cercavam o lugar, especialmente no tocante às relações dela com suas discípulas), que a palavra "lésbica" passou a ser usada para designar mulheres homossexuais. Alguns historiadores afirmam que Safo teria sido casada e tido uma filha. Alegam ainda que a mestra teria ficado viúva, se apaixonado por um rapaz e cometido suicídio em um penhasco. Há pesquisadores que acreditam que ela teria sido amante de várias de suas alunas até que, na velhice, teria voltado a se relacionar com homens. Lendas e realidade se emaranham na história da poetisa que, diferentemente de seus contemporâneos que glorificavam deuses e heróis, escrevia sobre amor e paixão com muitas doses de erotismo.

 

Leia também:

Sexo machista: será que você já fez?

Eu, bissexual: "mulheres acham que sou hétero; homens, que sou lésbica"

Por que a saída do armário de Ludmilla é tão importante?

Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!