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No Dia Internacional do Orgulho LGBT, uma história de coragem e resistência

Angélica Morango

28/06/2018 11h46

"Aos 12 anos eu já sabia que tinha interesse por mulheres. Com 13 beijei uma menina pela primeira vez. Foi algo que eu sempre soube", declara Ana Carolina, sobre ser lésbica (Foto: Arquivo Pessoal)

Em seu Instagram, Ana Carolina Moreira expõe algumas de suas paixões: a cidade de São Paulo, os amigos, a namorada, Gabriela. "Pela existência e resistência, te amar é símbolo de força, coragem e orgulho", legendou numa das fotos em que se beijam. O significado da palavra resistência, Ana, que tem 20 anos de idade e descobriu seu interesse por meninas aos 12, aprendeu na prática.

"Minha mãe descobriu que eu era lésbica quando eu tinha 15 anos e, a partir daí, foi bem complicado. Cedi à pressão psicológica dela para buscar ajuda para 'me curar'. Cheguei a namorar um cara. Me coloquei em situações extremamente problemáticas, chorando ao ter relações sexuais, me impondo uma verdade que não era a minha, mentindo muito dentro de casa e, consequentemente, sofrendo muito com tudo isso", revela.

Gabriela e Ana Carolina (Foto: Arquivo Pessoal)

"Depois de diversas ameaças de agressão e muita pressão psicológica familiar por ser homossexual, resolvi tentar a sorte e procurar meu caminho com meus próprios pés", explica Ana, em uma de suas postagens na rede social. Agora, sem a ajuda da família, ela não consegue arcar sozinha com os custos da faculdade de Psicologia numa prestigiosa universidade da capital paulista, cuja mensalidade ultrapassa R$ 2 mil.

Para trancar o curso e não perder o semestre (ela está no quinto, ao todo são dez), Ana decidiu vender itens pessoais, de roupas a pelúcias, e até uma estimada coleção de artigos da saga Harry Potter: "Preciso de uma graninha pra pagar a última mensalidade e poder trancar o curso e pra me reestruturar nesse mundão. É triste porque tenho essa coleção há anos e todos esses itens de colecionador significam muito pra mim, têm um valor emocional muito forte, mas essa é uma etapa que a gente tem que passar".

A realidade da Ana, hoje, é parecida com a que vivi há mais de uma década. A comunidade LGBT conquistou alguns direitos de lá pra cá, mas na intimidade das famílias as histórias de rejeição e sofrimento se repetem.

Diferentes, mas com muito em comum

Fui bem menos corajosa do que ela. Só me assumi lésbica para o meu pai aos 23 anos, depois de me formar em Jornalismo, quando me senti emocional e financeiramente preparada para tomar essa decisão e arcar com as consequências. Lembro das palavras dele como se a conversa tivesse sido ontem e não há dez anos: "Eu não acho isso normal. Pra mim, é uma doença. Você está doente. Se quiser eu consigo ajuda pra você, pago um psicólogo".

Nunca me senti doente. Não por ser lésbica. Me sentia mal, intoxicada, por ter que mentir para fazer as coisas comuns a todos os outros adolescentes: curtir uma balada, namorar, estar entre amigos. Só que para frequentar uma balada gay, namorar outra mulher e estar entre amigos LGBT eu mentia. Inventava nomes, lugares, pessoas. Tinha medo de ser "descoberta", medo de perder a minha família, medo de não ter para onde ir. Medo. Medo. Medo. E não era infundado, mas baseado em comentários e declarações homofóbicas que cresci ouvindo.

A liberdade plena que eu levei 23 anos para conquistar, a Ana demorou 20. Há quem precise de mais ou de menos tempo para se entender e se afirmar. "Não há espaço pra vergonha quando há amor por si, apenas orgulho", crava ela.

A história por trás do Dia Internacional do Orgulho LGBT

Foi o orgulho que fez com que clientes de um bar gay em Nova York não se intimidassem com uma batida policial – elas eram recorrentes em ambientes LGBT – e resistissem à prisão cuja alegação era de "conduta imoral". O bar era o Stonewall Inn. O ano, 1969. 28 de junho.

Naquela madrugada houve enfrentamento, resistência e apoio da comunidade. A multidão só foi dispersada pela polícia cerca de três horas depois que os primeiros frequentadores do local foram algemados. Houve uma série de manifestações e passeatas à porta do Stonewall Inn e em outros pontos da cidade nesse dia histórico que seria mundialmente lembrado como o Dia Internacional do Orgulho LGBT.

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Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!