O que as garotas de programa não contam
Universa
19/12/2018 04h00
"Tem homem que chega e não quer tomar uma ducha. Imagina você ter que dizer pra um homem barbado que ele precisa de um banho?!", comenta Yasmin Bergamin (Foto: Reprodução/Twitter)
Nada de Kama Sutra ou filmes pornô. O que elas sabem e fazem na cama, aprenderam instintivamente, na prática. Esqueça as perguntas clichês como "já ter se apaixonado por um cliente" ou "realmente curtir fazer sexo anal". Yasmin, Gabi e Belle são três acompanhantes experientes que abrem o jogo sobre o que as garotas de programa geralmente não contam.
"Eu comecei com 18, hoje tenho 21 e não tenho nenhum problema em mostrar o rosto. Sempre recebia propostas pra sair por dinheiro. Um dia aceitei e vi que ganharia muito mais do que como atendente em cinema, que é o que eu fazia na época", revela Yasmin Bergamin, que no Twitter, onde tem mais de 46 mil seguidores, se apresenta como "acompanhante ninfeta, namoradinha perfeita".
Entre ofertas tentadoras – e outras malucas – ela lembra que um dos fetiches mais incomuns que atendeu foi o de um cliente que comprava vídeos dela escovando os dentes "ele fez isso várias vezes e pagava bem". Para ter fotos e vídeos exclusivos e caseiros, como os que uma namorada mandaria, os homens desembolsam entre R$ 15 e R$35. "Já recebi declaração dizendo que mesmo ele estando longe, só vendo vídeos e fotos, eu era seu maior estímulo sexual."
"Uma vez um cara bêbado e muito louco de tudo o que você imaginar começou a me morder. Eu mandando parar, e nada. Resumo: chutei e expulsei porque não sou obrigada!" (Foto: Reprodução/Twitter)
Embaraço e medo
"Situação embaraçosa é quando o cliente vem me ver e não está cheiroso. Tem homem que chega e não quer tomar uma ducha. Imagina você ter que dizer pra um homem barbado que precisa de um banho?! Geralmente eu sugiro um banho junto, mas se ele se nega eu falo que não consigo atender nessa situação. Medo temos o tempo todo. Abrir a porta da sua casa a desconhecidos não é fácil. E aparece de tudo, não tenho preconceitos. Uma vez um cara bêbado e muito louco de tudo o que você imaginar começou a me morder. Eu mandando parar, e nada. Resumo: chutei e expulsei porque não sou obrigada!"
Yasmin revelou sua profissão à família "no susto". "Antes eu não mostrava o rosto, mas tive as fotos divulgadas para familiares e então resolvi assumir, mas não foi e não é fácil. Sou respeitada, mas aceitar, acho que nunca vão."
O que os homens querem na cama
Com o tempo, ela passou a entender o que os homens gostam na cama. "No meu caso, que tenho bundão, tenho duas posições que são infalíveis: de quatro e cavalgando de costas." Mas não é só sexo que eles procuram: "Muitos querem falar sobre o dia a dia, a vida, os problemas. Ser ouvinte e paciente ajuda muito".
Paciência também é um dos segredos de Gabi, que mora em Maringá, no Paraná, tem 25 anos e é garota de programa há quase dois. "Às vezes a gente tá meio estressada, mas procura não passar isso pro cliente. Tem gente que vem só pra conversar. Paga pra conversar, não é nem pra transar. Tenho cliente fixo que só vem fazer uma massagem e conversar."
"Eu estava com algumas contas atrasadas e entrei nessa vida. Acabei ficando e tô aqui com um objetivo, que é construir a minha casa. Em alguns meses cheguei a faturar R$ 15 mil. Não bebo e não gasto mais com roupas e acessórios, pra mim isso é tudo ilusão", conta ela, que já passou apuros. "A situação foi no motel, com um homem que estava usando drogas, mas eu soube contornar a situação. Entrei na onda e, graças a Deus, não aconteceu nada. Entrar na onda não é usar droga junto, é conversar com calma, porque a pessoa às vezes pira. A gente não sabe com quem tá lidando."
Belle Reily estuda Direito em São Paulo, tem 25 anos e é acompanhante há quase quatro. Durante esse tempo, estima ter atendido mais de mil clientes. Com fotos e frases provocativas como "adoro sexo pela manhã com um oral bem babado", ela desperta o interesse de milhares de fãs em seu blog pessoal e no Twitter, onde é seguida por mais de dez mil pessoas.
"Estou disponível e com muita vontade de trepar… vamos?", provoca Belle em seu microblog (Foto: Reprodução/Twitter)
"Sou garota de programa há muitas vidas. Aparentemente eu escolhi ser pelo dinheiro, mas, na verdade, todas as vezes eu estava em busca de achar uma metade que perdi há muito tempo. Meu objetivo real como GP foi acessar o máximo possível de homens para achar essa parte perdida. No instante em que eu achei, sabia que era ele, minha alma reconheceu. Não estamos juntos, fazemos aparte da vida um do outro. Talvez o objetivo seja apenas a mudança interna de cada um após o encontro, e não necessariamente viver um amor pra vida toda. O ideal é sermos completos sozinhos. Não existe um amor fora se antes não existir um amor dentro."
"O que as garotas de programa geralmente não contam é quem são por detrás de tudo aquilo que demonstram ser" (Foto: Arquivo Pessoal)
Apesar da reflexão contrastar com a exposição que ela faz nas redes, Belle explica que "o que as garotas de programa geralmente não contam é quem são por detrás de tudo aquilo que demonstram ser. Mas não são só as acompanhantes, a sociedade no geral vive personagens", filosofa. "Vou parar quando minha missão acabar, quando eu tiver aprendido tudo aquilo que precisava aprender, quando todos os encontros proporcionados por essa profissão acontecerem. Me abstenho de seguir uma religião, pego de cada uma aquilo que me faz sentido. Auto-observação é cura."
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Sobre a autora
Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.
Sobre o blog
Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!