É amor ou fogo no rabo?
Universa
21/12/2018 05h00
A paixão acontece sem que a gente tenha que pensar nela. Como a fome. Mas às vezes comemos por ansiedade, não pelo estômago vazio. Nos atiramos em algumas relações porque queremos sentir o que nem sabemos o que é. Buscamos companhia? Atenção? Sexo?
Um tempo atrás decidi passar uma temporada sabática e celibatária. Foram seis meses, ao todo. Depois de um casamento que durou anos, não tive vontade de me jogar na pista assim, de cara. Imaginava que antes de estar com alguém de novo eu precisava passar um tempo comigo, me redescobrindo, talvez me reinventando. Definitivamente, eu precisava de respostas.
Seis meses sem sexo, nem beijo na boca
180 dias sem sexo, sem amasso, sem beijo na boca. Sem masturbação, não, aí já seria demais. A ideia não era "cumprir uma penitência", mas experimentar. Será que aquela história de que transar era como andar de bicicleta, e uma vez que a gente aprende não esquece mais? Eu torcia para que sim.
Nesse mesmo período eu já estava há quase dez anos sem andar de bicicleta e me arrisquei numa, emprestada. Subi meio trêmula, morrendo de medo de cair e perder os dentes. Pedalei por 40 quilômetros, inclusive na chuva. Estava tensa, mas extremamente feliz. (Tive uma sensação parecida ao transar pela primeira vez depois desse tempo de "seca". E isso se repetiu depois, quando fui pra cama com outras pessoas. Diferentemente de um passeio de bike, não são só as leis da física que estão em jogo no sexo, mas também as da química e da atração – e elas variam muito.)
"Nada foi feito para durar"
O que se aprende uma vez pisando no céu ou queimando no inferno não será útil na próxima viagem. Existem incontáveis céus e infernos. E a graça é justamente essa. Talvez a gente nem saiba exatamente o que quer de uma relação. E não é o tempo de solteirice que determina o sucesso do próximo match. Aliás, tentar fazer previsões pode ser aterrorizante. "Vivemos em tempos líquidos, nada foi feito para durar", segundo Zygmunt Bauman. Para ele, que foi um dos maiores expoentes da sociologia e autor de afirmações um tanto pessimistas, no período em que vivemos, da pós-modernidade ou "modernidade líquida", as relações não são duráveis pela facilidade das conexões e, principalmente, das desconexões. É cada vez mais fácil encontrar alguém e se desvincular completamente depois. Ai!
Afinal, buscamos companhia? Atenção? Sexo? Às vezes buscamos respostas – para perguntas que nem formulamos direito. Esperamos quem nos tire o fôlego, a fala e nos arrebate. Desejamos as borboletas no estômago e o suor nas mãos. Secretamente temos que admitir: adoramos o imprevisível. Fogo no rabo pode virar amor. Amor pode ser apenas fogo no rabo. Só dá pra identificar que é uma coisa ou outra depois de arder.
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Sobre a autora
Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.
Sobre o blog
Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!