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BDSM: "O prazer é voltado para as sessões; o sexo é consequência"

Universa

25/03/2019 04h01

"Toda submissa usa uma coleira. É como se fosse uma aliança no BDSM. Essa foi a que ele me entregou quando nos vimos pela primeira vez", conta Sofie, adepta e submissa (Foto: Arquivo Pessoal)

"Sempre gostei de uma pegada mais hard. Sou bissexual e, desde que descobri o BDSM (bondage e disciplina, dominação e submissão, sadismo e masoquismo), foi bem significativo, me fez entender muitas coisas. O bondage (fetiche que consiste em amarrar e imobilizar o parceiro), o spanking (que envolve palmadas e outros castigos suaves ou intensos) e o rape play (estupro consentido) sempre me interessaram muito", conta Sofie, de 21 anos, que se define como submissa. Paulistana, cursando o terceiro ano de direito, ela pede autorização ao seu dominador para conversarmos. Ele assente.

Sadio, seguro e consensual

A base do BDSM é a tríade SSC (sadio, seguro e consensual), que preconiza, por exemplo, que as ações não coloquem em risco a saúde física ou mental dos envolvidos, e que haja um acordo prévio sobre o que pode ou não ser feito.

Antes de experimentar, na prática, uma relação de submissão, Sofie buscou informações sobre o assunto na internet, em páginas como o FetLife – que é uma rede social para fetichistas e adeptos do BDSM com mais de 7 milhões de membros no mundo todo –, e em livros, como "Cinquenta Tons de Cinza". "Geralmente os homens não sabem o que é um plug anal, um gel, um vibrador. Acham que a mulher comprando isso vai desfavorecer a piroca do cara, mas não tem nada a ver, acho que agrega muito!", dispara.

"Temos um relacionamento aberto, mas ele ainda não permitiu que eu ficasse com ninguém"

Sofie afirma sentir prazer em obedecer seu dominador e revela que eles têm um relacionamento aberto "só que até o momento ele não permitiu que eu ficasse com ninguém", salienta. "No BDSM, geralmente os dominadores podem deixar a sua submissa ficar com um 'baunilha' (homem comum, que não é um dominador) e permitir uma 'irmã de coleira' (outra submissa). Só que o meu dominador não cogita a possibilidade de eu ficar com um baunilha, nem com outro dominador. Já pensamos em uma outra mulher, porque ele sabe que eu gosto, mas não no momento. Temos um relacionamento aberto, mas tudo o que eu faço tem que ser consentido por ele", detalha, sobre a relação com o "Sr. Silva".

"A parte que mais me chateia no BDSM é os homens acharem que as submissas vão lhes proporcionar um sexo fácil. Eles não sabem apreciar o erotismo, acham que só porque é uma submissa que vai se submeter a qualquer homem e qualquer pessoa" (Foto: Arquivo Pessoal)

Sessões de BDSM nem sempre envolvem sexo

Ela explica que o BDSM deve ser vivido além das quatro paredes do quarto e que as sessões, os rituais, nem sempre terminam em sexo. "Tem uma amiga do meu dominador que é submissa há muito tempo e faz quatro anos que ela não tem uma relação sexual. O dominador dela é casado. Ela só tem as sessões, não passa disso. Nem sempre a sessão vai conduzir ao sexo. O prazer no BDSM é voltado para as sessões, o sexo é uma consequência. Uma prática que as submissas fazem, como eu faço, é se ajoelhar na frente do seu dominador e beijar a mão dele", entrega Sofie.

"Submissão e dominação não se aprende"

O que leva alguém a desejar a submissão total, que às vezes inclui humilhação? O que explica o tesão em dominar? Quem responde é o consultor em fetiches e BDSM – e dominador há mais de 30 anos – José Carlos Marques, o Gladius, autor do blog "Diário de um Dominador". "Eu não acredito que o que determina o que a pessoa vai ser no BDSM tenha a ver com prática e com cursos. Eu acho que a prática e os cursos podem, de fato, evidenciar, trazer à tona coisas que a pessoa nem desconfia que é. Características que estavam suprimidas ou escondidas. Não vejo nem submissão, nem dominação como coisas que 'do nada' você aprende. Você já tem isso em você e isso é trazido pra fora."

"O tempo de prática, cursos, amigos, filmes, são coisas que podem servir de gatilho para que a pessoa traga à tona algo que ela já é por dentro. Não vejo nem submissão nem dominação como coisas que você aprende" (Foto: Arquivo Pessoal)

O interesse pelo BDSM, ele recorda, surgiu na adolescência. "Foram pequenas coisas como influência de avô dominante, pai dominante, tios dominantes; a referência de grandes homens, além de filmes da época. As coisas foram simplesmente se somando. Desde muito cedo eu já gostava de brincadeiras que envolviam captura, liderança e dominância. No começo da vida adulta, depois de ter servido o Exército e da experiência de lidar com hierarquia, lá pelos meus 19 anos, eu fechei as contas do que queria ser na minha vida e como eu queria viver em várias áreas, incluindo na afetiva, que era ser dominador. Nessa idade tive a minha primeira parceira na condição de submissa."

Para curiosos e iniciantes no BDSM: "comece aos poucos"

Para curiosos e iniciantes no BDSM, Gladius observa que "tentar fabricar um parceiro submisso ou dominante não costuma dar certo", e sugere que as novidades sejam apresentadas aos poucos. "Use fotos e vídeos eróticos, comente uma cena de filme ou série. A ideia é começar como uma simples brincadeira. O outro pode não estar preparado para atender de pronto aos seus desejos. Apresente uma coisa aqui, outra ali. Algemas, cordas, vendas, um chicote… Ou simplesmente use as mãos – nada como uma boa palmada. Se isso irá evoluir para algo mais profundo e intenso no futuro, já é outra história. Seja estratégico para não assustar e perder a oportunidade de viver momentos preciosos com quem já está ao seu lado", pondera.

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Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!