"A cultura Leather é parte importante da história gay internacional"
Universa
16/10/2019 04h00
Dom Papai, o Mister Leather Brasil 2019, disputa o mundial, nos Estados Unidos, em maio de 2020 (Foto: Reprodução/Instagram/Masculicidade)
"As festas na Eagle abriram caminho para eu e meu marido nos descobrirmos Leather. Nos sentimos acolhidos pela comunidade e ficamos fascinados pelo visual, além de percebermos que a cultura Leather é parte importante da história gay internacional, então nos dedicamos de corpo e alma à valorização desta cultura", explica Dom Papai, vencedor do concurso Mister Leather Brasil 2019 que aconteceu no último sábado (12), em São Paulo.
Dom Papai é o pseudônimo de Gabriel, 38, jornalista, mineiro de Belo Horizonte, e que há 13 anos vive em São Paulo. "Dom Papai é o nome em português de uma das categorias dominadoras do BDSM, o Daddy Dom. A figura do respeito paterno e do tratamento severo, porém carinhoso, sempre me encantou dentro das relações de dominação e submissão", revela ele, que é casado com outro dominador.
A história do Leather
Historicamente, o Leather emergiu com outros movimentos de contracultura, como o LGBT, que entre as décadas de 1950 e 1960 buscavam romper os modelos sociais e de comportamento vigentes. O florescimento cultural após a II Guerra inspirou o surgimento de novas identidades, e é nesse contexto que o Leather surgiu, paralelamente, nos Estados Unidos, Inglaterra, Holanda e Alemanha, agregando elementos tanto militares, quanto do BDSM.
Looks podem custar até R$ 10 mil
Para conquistar o título, Dom Papai diz ter investido alto no "Gear Leather", o conjunto de peças que compõem o figurino em couro. "Produzi muito material sob medida e comprei várias peças no exterior. O Leather é uma paixão que exige dedicação", pontua ele, que apenas no quepe desembolsou mil reais. "Um look internacional completo pode custar de R$ 8 mil a R$ 10 mil." As peças podem ser encontradas em lojas especializadas e garimpadas em lugares como a Galeria do Rock, na capital paulista. Sobre a tendência mundial para a utilização de materiais mais sustentáveis, como produtos que substituam o couro, ele é incisivo: "vejo um movimento neste sentido. Há aí também a questão do consumo de carne, que continua grande no mundo. Penso que é sempre ruim o sacrifício animal, mas acredito também que, se ele acontece, não é correto desperdiçar nada.".
Dom Barbudo, um dos precursores da comunidade Leather no Brasil, e Dom Papai, o Mister Leather Brasil 2019 (Foto: Reprodução/Instagram/Masculicidade)
Não é só glamour
Um dos precursores da comunidade Leather no Brasil, e membro da comissão organizadora do concurso nacional, Dom Barbudo explica que, além do reconhecimento, um Mister tem responsabilidades. "Ele é um representante da comunidade. Este é um cargo político e também com um caráter humano. O Mister é um líder e tem que estar preparado para atender às mais variadas demandas de todo e qualquer um que busque seu apoio. Ele também busca o crescimento e o fortalecimento da comunidade, seja pelo exemplo ou por suas ações."
Nascido no Rio Grande do Sul e radicado em São Paulo, Dom Barbudo conta que o que despertou seu interesse pelo couro há 20 anos, desde sua chegada à capital, foi a necessidade de pertencimento. "Estamos falando de um estilo de vida que, de certa maneira, foge do convencional, e quando encontramos outros iguais, nos sentimos mais fortes e seguros. Já frequentava bares vestido de couro desde 1999, mas só bem mais tarde comecei a fazer amizades no meio Leather, e muito tempo depois é que formamos o grupo que deu origem à comunidade que temos hoje. O concurso, que começou em 2017, ajudou nessa visibilidade."
Mais que fetiche, um lifestyle
Dom Barbudo salienta que, mais que um fetiche, o Leather é um lifestyle que tem conquistado cada vez mais adeptos. E se engana quem acha que a presença dos amantes do couro seja restrita a bares e clubes noturnos: há uma extensa programação que vai de jantares a passeios a pé pelas ruas de São Paulo. "Depois de tanta luta e dedicação, estamos crescendo e aparecendo cada vez mais. Houve uma época em que, nos encontros, tínhamos em torno de cinco a dez pessoas. No último 'Jantar Leather', tivemos mais de 130! Estamos cada vez mais fortes e unidos", comemora.
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Sobre a autora
Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.
Sobre o blog
Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!