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Eles não se apaixonam nunca: entenda quem são os arromânticos

Universa

22/02/2020 04h00

Ser considerada uma pessoa fria é uma das situações enfrentadas por pessoas no espectro arromântico", conta Walter Mastelaro, 32 (Foto: Arquivo Pessoal)

Já pensou como seria se você não se apaixonasse nunca, nunquinha mesmo? Nada de borboletas no estômago pensando em crush, nem dor de cotovelo por um amor não correspondido. O que parece inimaginável para uns, é uma realidade para outros: os arromânticos.

"Arromanticidade é um movimento de pessoas que não sentem, seja de forma total ou parcial, atração romântica por outras pessoas", define o Coletivo AbrAce.

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"Os arromânticos (ou apenas aros), não têm vontade ou necessidade de estar em uma relação romântica ou participar de atividades românticas com outras pessoas – o que muitas vezes faz com que sejam vistos como frios, incapazes de afeto ou 'predadores'. A verdade é que não sentindo atração romântica, sentem pouco ou pouquíssimo desejo de estar ou desenvolver relações românticas", expõe o Coletivo, que pontua ainda que pessoas arromânticas podem ter qualquer orientação sexual (heterossexual, homossexual, bissexual, entre outras).

Na bandeira arromântica, o verde se opõe à cor rosa (associada ao romance), e a escala representa os diferentes níveis de arromanticidade, também identificada como "aro". (Imagem: Reprodução/AbraAce)

Apesar de não sentirem atração romântica, arromânticos podem sentir atração sexual. Mas podem não sentir também. Há quem mantenha namoros e até casamentos sem relações sexuais – e os motivos não têm nenhuma ligação com política ou religião. Esses são os assexuais.

Bandeira que representa os diferentes espectros da assexualidade, ou "ace" (Imagem: Reprodução/AbraAce)

Muitos assexuais também são arromânticos. Parece complexo, mas foi justamente para difundir informações sobre assexualidade e arromanticidade que cinco amigos criaram, em 2018, o Coletivo AbrAce.

Além de lançar uma carta pública e um livreto sobre assexualidade, o Coletivo dialoga com toda a comunidade através das redes sociais, onde reúne mais de 5 mil integrantes.

Nessa, que foi a semana da Semana da Visibilidade Arromântica, conversei com três membros do Coletivo AbrAce. Arromânticos e assexuais, eles abrem suas experiências.

"Posso sentir uma leve atração romântica, mas ela dura pouco"

"A arromanticidade tem uma teoria muito semelhante à teoria assexual, a diferença é que falamos de outra atração, não a sexual, mas a atração romântica. Então mesmo pessoas alossexuais (que sentem atração sexual) podem ser pessoas dentro do espectro arromântico. Dentro do espectro arromântico, me identifico no que chamamos de área cinza. Não me sinto confortável para me identificar com como uma pessoa arromântica estrita, porque posso sentir uma leve atração romântica por outra pessoa. A questão é que quando sinto, ela costuma durar pouco. Minhas relações possuem a mesma prioridade emocional pra mim. Não consigo colocar uma relação de namoro acima de uma relação com amigos, por exemplo", explica Walter Mastelaro, 32, que se define como bissexual.

"Não há o que faça uma pessoa arromântica estrita se apaixonar"

"Na minha infância, casamento e relacionamentos nunca estavam nos meus planos para o futuro e nem nas minhas brincadeiras. Não é como se faltasse algo. Só não passava na minha mente, nem estava entre as minhas prioridades. Na adolescência eu tive um namoro, mas foi essa pessoa que abriu os meus olhos para a assexualidade (me considero assexual estrita) e depois eu descobri a arromanticidade. Nunca achei que a felicidade estaria em relacionamentos sexuais ou amorosos, muito menos que família se resume a isso. É um mito. Acredito que mais casais estão juntos por conveniência do que por amor, mas não falam sobre isso. Algumas pessoas podem se apaixonar depois de conhecer bem alguém, ou tem alguma questão específica que facilita isso. Mas na estrita, acredito que não há o que faça a pessoa se apaixonar (risos). É só como se fosse algo que ela não quer e nem precisa", aponta Rafaela Santos, 24.

"Me achava fria, pois me julgavam assim"

"Descobri a assexualidade há dez anos, através de um colega de faculdade que me confessou ser assexual. Para saber do que se tratava fui em busca do termo na internet. Fui atrás de grupos com pessoas neste perfil e encontrei um no Facebook com relatos que pareciam feitos por mim, tamanha a semelhança. Lá também entendi, graças à professora Elisabeth de Oliveira, que fez uma das mais conhecidas pesquisas sobre assexualidade no Brasil, o termo 'arromanticidade'. Tal como a assexualidade, a arromanticidade também tem escalas. Foi novo, mas fácil absorver que sexo e amor nem sempre andam juntos. Com isso, me descobri também dentro da escala cinza de arromanticidade, coisa que pouco tempo antes sequer sabia da existência. Só me achava fria, pois me julgavam assim", lembra Sara Guedes, 35, que se define como bissexual.

'E isso tem cura?'

"Era casada e decidi contar para o então marido sobre minha descoberta, e a primeira coisa que me perguntou foi: 'E isso tem cura?'. O casamento terminou em um abuso em 2015. Após isso, conheci pessoas que estavam engajadas para disseminar informações sobre as assexualidades e para que mais gente descubra que não está só, que assexualidade não é doença, portanto não há o que se curar e, principalmente, pra que mais gente saiba que não precisa se violar, que não é frio, não está quebrado e que está tudo bem", pontua Sara.

"Com frequência nós, assexuais, temos nossas experiências e identidades invalidadas por médicos, psicólogos e terapeutas. Sofremos com constantes ameaças ou conselhos, provenientes não apenas de profissionais da saúde, mas também de amigos e familiares para que recorramos à hormonização, a utilização de medicamentos e terapias para que experimentemos a experiência lida socialmente como normal", expõe o Coletivo.

 

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Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!