“Mulheres Gozam”: o livro com relatos de quem nunca teve um orgasmo
"Há dez anos vivi um relacionamento abusivo, de espancamento. Quando saí dele, comecei a refletir sobre quem eu era como mulher, por que dentro daquele relacionamento eu era tão frágil, mas fora eu era tão forte? Isso era algo que me incomodava demais. Depois continuei vivendo algumas experiências de abuso dentro do meu novo relacionamento, só que esses não eram mais abusos físicos, mas que eu permitia acontecer, como fingir orgasmo, praticar sexo sem querer praticar… E eu comecei a pensar 'por que pra gente é tão natural fazer sexo sem querer fazer, gemer sem querer gemer..?' Vi que tinha alguma coisa muito errada, que não me fazia bem, e eu precisava expor aquilo pra outras mulheres." O relato é de Polliane Oliveira, a Polly, autora do livro "Mulheres Gozam", da editora Areia.
Natural de São Luís, no Maranhão, onde trabalhava na área comercial de uma startup, Polliane se mudou para Joinville, em Santa Catarina, em busca de mais segurança e qualidade de vida, e viu sua rotina profissional mudar radicalmente quando o blog que mantinha para dividir suas experiências pessoais incentivou outras mulheres a contarem suas histórias. Logo, o que era um pequeno projeto pessoal, um hobby, ganhou corpo e páginas.
"Eu sabia que aquilo acontecia com muitas mulheres, mas de forma muito velada. Comecei a dizer 'não'. 'Não gozei; não vou gemer se não estou com vontade', essas coisas que toda mulher sabe. Comecei a escrever parte do que eu ia vivendo nessa desconstrução e passei a receber alguns depoimentos. Fiquei chocada. Alguns são muito tristes, de mulheres que estão casadas há 20, 30 anos, e não sentem prazer, e são abusadas diariamente pelo parceiro, porque isso não deixa de ser um abuso. Pensei: 'preciso dar voz a essas mulheres, ninguém quer falar.'"
Mulheres Gozam
"Só sinto prazer com sexo oral. Sei disso porque já tive outros relacionamentos em que fui estimulada pela língua e gostei muito. Atualmente sou casada e o meu marido tem nojo de fazer sexo oral. Eu nunca disse isso pra ele, pois sinto medo que ele se ofenda, e sinto vergonha, mas confesso que já pensei em traí-lo. É uma sensação insuportável", é o relato de B.H.V., de 47 anos, para o livro.
"Só gozei, em toda minha vida, uma única vez. E foi maravilhoso", diz T.F.H., de 62 anos, em "Mulheres Gozam".
"Quando eu e meu marido tivemos a primeira conversa sobre o meu prazer, a respeito de como me sentia, ele se sentiu responsável pelos anos em que eu não sentia prazer, pela maneira como nosso casamento estava indo, e estava à beira de um colapso, porque não adianta sermos hipócritas: o sexo ainda é uma das maiores causas de divórcio, não só no Brasil, mas no mundo. E ele topou, de uma forma muito tranquila, que eu expusesse isso. Não adianta a gente se negar a falar a verdade, por mais vergonhosa que essa verdade seja. O que nos tranquiliza é saber que essas histórias não acontecem só com a gente. Antes de sermos marido e mulher, somos parceiros", revela a escritora.
Mães transam
"Algo muito importante que tratei em 'Mulheres Gozam' é a necessidade dos filhos saberem que nós transamos, porque se não começarmos a abrir esse diálogo dentro de casa, esse tabu vai continuar. Meu filho, o João, tem 15 anos; a Maria, 14, e eu comecei a estimular esse diálogo há uns três anos, especialmente antes de publicar o livro. Conversei com eles, falei que ia expor um pouco a minha vida. Relato situações que aconteceram, deles ouvirem barulhos, deles ficarem envergonhados. É normal uma mãe ficar envergonhada dos filhos saberem que ela estava transando, e foi necessário conversar com eles: 'olha, eu transo, e um dia vocês também vão transar'', abriu Polliane.
Os dois mil exemplares impressos na primeira edição de "Mulheres Gozam" já estão sendo distribuídos em livrarias de todo o Brasil, e nas plataformas digitais pela Amazon. A ideia da autora é ir além das folhas e das telas e ganhar os palcos: "sou atriz de formação, a proposta é transformar os depoimentos em um monólogo e tratar de forma teatral, com humor, pras mulheres começarem a ver isso de uma forma mais natural", explica ela, radiante com a repercussão de um trabalho que começou com sua jornada em busca da realização pessoal, e abriu caminho para que outras mulheres – e homens – reflitam sobre sexo, amor e felicidade.
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