“Sou assexual; minha namô, não. Ela pode dar uns pegas em outras meninas"
Luany Rodrigues, de 20 anos, e Nathalie Lohane, 23, namoram há oito meses, à distância. Luany em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, e Nathalie em Brasília, Distrito Federal. Mais que os mil quilômetros que as separam, há um detalhe importante que impede um contato mais íntimo entre elas: Nathalie é assexual. "Nunca vamos 'ficar'. Eu sou uma pessoa assexual muito 'repulsa', o que quer dizer que sou repulsa ao sexo, amassos e beijos mais profundos", conta, explicitando ainda que Luany é a única pessoa com quem já se imaginou trocando um selinho mais demorado "mas nada além disso. Dormir de conchinha, andar de mãos dadas… Só isso, basicamente. É um namoro que muitos chamariam de puro, infantil, de contos de fadas."
A assexualidade, apesar de pouco discutida, é mais comum do que se imagina. Um estudo do Instituto de Psiquiatria do Hospital de Clínicas da USP (ProSex-IPq) estima que no Brasil 7% das mulheres e 2,5% dos homens sejam assexuais, o que significa que, assim como Nathalie, não sentem atração ou interesse sexual – e isso não tem nenhuma correlação com problemas físicos, hormonais, psicológicos, nem com escolhas religiosas, por exemplo. Alguns especialistas explicam a assexualidade como uma orientação sexual, como a heterossexualidade e a homossexualidade.
Luany, que se define lésbica, conta que namorar Nathalie não faz com que ela deixe de sentir atração sexual por mulheres. "Eu tenho por ela, inclusive, mas eu nunca faria nada porque ela é assexual. A gente combinou de eu suprir essas necessidades sexuais com outras pessoas, tipo como ter aquelas transas de uma noite só", diz. O que algumas pessoas poderiam interpretar como "desapego" ou "ausência de ciúme" é, na verdade, resultado de muita sintonia entre as duas, que se conheceram no Twitter há um ano e quatro meses e se consideram "soulmates" (almas gêmeas, em tradução livre).
"Eu sempre me identifiquei como assexual arromântica (que não sente atração sexual ou romântica). Depois de um tempo me relacionando com a Luany passei a me atrair romanticamente por ela, me descobrindo demirromântica (alguém que pode chegar a sentir uma atração romântica por uma pessoa depois de ter uma conexão forte com ela)", revela Nathalie, que diz ter sido Luany a primeira e única pessoa por quem se apaixonou na vida.
Relacionamento aberto
"Eu já fiquei com ciúme dela, sim, mas eu não sou uma pessoa ciumenta, então são questões muito específicas. Eu não me importo com o que o corpo dela faz, só com o coração. Eu não gosto de vê-la flertando com outras pessoas, mas ela pode dar uns 'pegas' – e flertar pra conseguir isso, mas sem a minha presença. Nosso relacionamento é aberto no sentido carnal da palavra, porém não no sentido sentimental", explica Nathalie.
"Se eu começo a me apegar a alguém ou alguém a se apegar a mim, termino. Nosso relacionamento é aberto no sentido carnal, e a Nathalie não faz sexo. Ela que prefere assim pra me deixar 'de boas'. A gente começou diferente, estabelecemos uma relação de confiança, respeito, cumplicidade e devoção antes de desenvolver um sentimento romântico. Eu costumo dizer a palavra 'soulmate' porque às vezes o santo bate tanto que você quer casar, ter filhos e passar o resto da vida com ela", derrete-se Luany.
Assexuais na rede
Uma busca rápida no Google aponta o termo "assexualidade" em 159 mil resultados; muitos deles ligados a blogs específicos sobre o assunto, além de fóruns virtuais e grupos fechados no Facebook como o Assexualidade Brasil, o Comunidade Assexual e a página de humor Assexualidade da Depressão – que juntos têm mais de 20 mil membros. No Instagram, a tag "asexual", assim, em inglês, revela quase quatro milhões de postagens em todo o mundo.
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