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Morango

Por que sapatão parcela o término do namoro em 24x no carnê?

Universa

24/07/2019 04h22

Foto: iStock

Vivi algumas vezes essa saga do término interminável. Um dia, ouvi que para ter certeza de que se deseja ficar num relacionamento, basta fechar os olhos por uns instantes e se imaginar fora dele. Apesar de cética, gosto de fazer esses experimentos que não me custam nada. Claro que, para o equilíbrio e a saúde mental de qualquer ser humano, é bom imaginar que por mais que desejemos alguém, não temos controle sobre as vontades alheias. Com o passar do tempo, mudamos. Os outros também. O que hoje vislumbramos como meta, amanhã ou depois pode não fazer mais parte dos planos – e é basicamente por isso que as pessoas se separam.

Onde a gente se perdeu?

Não existe uma fórmula da paixão. A gente se encanta por um sorriso, uma gentileza, pela inteligência, pelas gargalhadas que aquela pessoa nos arranca e, claro, pelos orgasmos que ela nos provoca. Não necessariamente nessa ordem. E parece que a gente vai ser feliz pra sempre. Mas "o pra sempre sempre acaba lá, lá lá". No fim, surgem mais perguntas que respostas: o que houve? Onde a gente se perdeu? Onde eu falhei? Quando acabou? Como a gente não se deu conta?

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Na balança imaginária, ficam os bons momentos de um lado, os desgastantes do outro. O sexo incrível versus as inúmeras discussões. O caminhão de carinho do começo, contrastando com a total negligência nos últimos tempos. As surpresinhas deliciosas que aconteciam antes, frente à completa inércia atual. Não dá mais! Ou dá?

Mais do mesmo

"Vamos tentar de novo? Jantar naquele restaurante que a gente adora? Ir àquele motel? Fazer aquela viagem? Retomar os nossos planos? A gente se dava tão bem!.." São algumas das coisas que a gente pensa e fala para aquela pessoa com quem dividimos tantas intimidades e partilhamos segredos – inclusive os inconfessáveis. Ao menor sinal de hesitação ou recusa, apelamos: "Nunca fui tão feliz quanto fui com você (mentira). Nunca senti por ninguém o que senti por você (mentira). Não me vejo com outra pessoa (mentiraaa)!.."

Mentimos. Conscientemente ou não. Por medo de sair da zona de conforto, mesmo que ela não seja nada confortável mais. E porque a gente morre de preguiça de começar tudo de novo com alguém. Então, depois de tantas promessas e súplicas e crises – daquelas em que a gente chora até ficar remelenta e desfigurada, a gente reata.

Céu e inferno

Uma ou duas semanas de noites tórridas e infinitas juras de amor e tudo volta a ser (ruim) como era. E dá-lhe mais choro até os olhos ficarem empapuçados como se tivessem conjuntivite. Num dia a gente acorda linda, plena, shining bright like a diamond. No outro, parecendo um farrapo, só o pó da rabiola. Uma. Duas. Três. 24 tentativas parceladas no carnê e pagas com lágrimas de sangue, suor e cerveja.

Houve amor, doação, reciprocidade… até o momento em que deixou de haver. Parece simples assim, numa linha, mas é uma das mais doídas constatações que o coração faz. À beira de um afogamento em emoções, damos um último mergulho no passado para tentar resgatar quem fomos. Mas "não se pode banhar duas vezes no mesmo rio", observou Heráclito, vinte e cinco séculos atrás. As águas não serão mais as mesmas, nem quem se banhou lá.

Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!