Sororidade: pra não fazer o Prior, os homens precisam conhecer o conceito
Nesta edição do BBB estamos testemunhando um fenômeno inédito: mesmo quem não gosta do reality tem acompanhado em outras mídias a repercussão dos assuntos mais polêmicos da casa. Machismo, importunação sexual e assédio têm sido pautas recorrentes motivadas pelo programa. Os embates ligados ao feminismo que surgem lá têm reverberado com força aqui fora. Para se ter uma ideia desse impacto, no último domingo (9) um diálogo entre os participantes fez com que as buscas pelo significado de sororidade disparassem no Google.
"Eu voto no Prior por uma questão de sororidade", falou Manu Gavassi durante a votação.
"O que é isso?", perguntou Prior.
"Depois você aprende lá fora", vaticinou a cantora.
Atriz e cantora, Manu Gavassi tem 27 anos. Felipe Prior, que é arquiteto, também. Pela idade e formação acadêmica, era de se esperar que o paulistano já dominasse o conceito – que inevitavelmente conhecerá aqui fora.
Sóror, em latim, é irmã
Com origem na palavra sóror, que em latim significa "irmã", sororidade é a união das mulheres.
Feministas e ativistas, as irmãs gêmeas Letíca Graton e Isabela Graton, 23, criadoras do podcast "O Pessoal é Político", explicam que sororidade e amizade são proposições distintas. "O grande problema é que a sororidade acabou sendo muitas vezes esvaziada do seu significado real. Se você se une com outras mulheres, vocês conseguem mudar as coisas. Porque uma mulher sozinha não faz nada, mas várias juntas podem atuar para mudar a sociedade", simplifica Isabela, que é jornalista.
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"Sororidade é a luta política que você faz junto com as outras mulheres"
"As mulheres têm que se apoiar e estar juntas porque a sociedade patriarcal nos desmobiliza. Faz a gente se odiar, faz a gente ficar longe umas das outras e valorizar apenas nossos relacionamentos com homens, e não com mulheres. Sororidade não quer dizer estar num grupinho em que todo mundo tem que se amar e onde todas são amigas. Não é sobre isso. Mas, sim, sobre a luta política que você faz junto com as outras mulheres. Vocês não precisam, necessariamente, ser amigas, sair juntas e tudo isso como se fosse só uma questão de amizade. O mundo machista e patriarcal colocou umas contra as outras porque, pro machismo, quanto mais a gente estiver afastada, melhor, porque a gente não vai se comunicar e entender as questões que a gente tem em comum", expõe Isabela.
Para Cinthya Lima, professora de Filosofia, Sociologia e Ética, para entender a sororidade "basta refletirmos sobre fraternidade, união, laço e respeito. Seria basicamente pensarmos numa perspectiva de mundo onde as mulheres tenham comportamentos e práticas sempre cultivando bem querer, apoio e senso de união. Isso colocaria as mulheres numa 'versão comunitária' dentro da sociedade, onde a competitividade seria substituída por instintos e práticas mais éticas, empáticas, respeitosas e repletas de alteridade".
"Como homem, é dever moral dele (Prior) conhecer os limites da equidade"
A professora analisa ainda que a ignorância de Prior sobre o tema é um alerta. "Ele é o reflexo da proposta de educação que o novo modelo político defende. Um indivíduo que não consegue perceber o mundo fora da caixa em que vive. Como homem, é dever moral dele conhecer os limites da equidade. Como profissional, falta capacitação e habilidades para compreender o universo feminino plural – afinal ele também é arquiteto de projetos femininos. No geral, escolas e universidades ainda falham muito na construção desses saberes e, principalmente, das habilidades socioemocionais. Prior é o reflexo do modelo de educação que promove muitos 'fazedores' e poucos pensadores."
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