Modelo de 24 anos lança autobiografia e loja de produtos para transgêneros
– Eu olho pra você e vejo um garoto. Por que não se sente um garoto?
– Eu não consigo me ver como um garoto. Eu entendo que estou com a aparência totalmente masculina, mas não sou como eles, eu tenho muito do feminino em mim. Eu sou delicada, extremamente sentimental, vaidosa, falo baixo, gosto de ficar na minha. Me sinto mulher na maior parte das vezes. Eu fico reparando os garotos e eles estão sempre falando alto, grosso, tentam sempre mostrar algum lado masculino deles, dão aperto de mão forte, andam de um jeito diferente. Não sei explicar exatamente, mas eu olho para todos os garotos que conheço e não consigo me sentir parte deles.
"A vida da um Transgênero"
O diálogo acima, que aconteceu de verdade entre Stevan Queiroz, de 24 anos, e sua psicóloga, faz parte do livro "A Vida da um Transgênero", lançado em agosto. A publicação traz os fatos mais marcantes da transição de Stefany para Stevan: das dúvidas na infância até a alteração dos documentos, dos medos aos detalhes das relações sexuais – alguns desses, inclusive, ele divide com os seguidores no Instagram, onde divulga produtos voltados para homens trans, como ele, mas que também podem ser utilizados por qualquer pessoa, independentemente do gênero.
"Estou em transição há cinco anos. No início tive muita dificuldade em encontrar produtos para me auxiliar nas disforias. Queria esconder os seios, ter um volume na cueca que fosse bem realístico ao ponto de poder nadar, ir pra praia, e não ficar encanado ou constrangido. Queria viver socialmente sem ter que ficar preocupado se estavam reparando meus seios, na falta da barba ou na falta do volume da cueca. As próteses que testava deixavam um volume exagerado, que tornava impossível fazer natação, por exemplo. Foi por essa necessidade que passei a produzir meus próprios produtos. Uma vez que consegui, passei a oferecer para os meus amigos, e com o tempo fui expandindo. Queria que os garotos trans pudessem encontrar o que precisam com qualidade e preço acessível", explica o empresário.
Transtore
Aberta há um ano e meio, a loja oferece mais de 30 itens no catálogo. De binders, que são faixas para compressão dos seios, até masturbadores de encaixe. O que mais se destaca, no entanto, são as próteses extremamente realísticas, os packers (pronuncia-se pequers). Feitos artesanalmente, com materiais que imitam a pele humana e em até cinco cores, eles impressionam.
Apesar do público ser formado, em sua maioria, por homens transgêneros, muitas mulheres lésbicas e bissexuais procuram os produtos da loja para apimentar as fantasias na cama. "Quero um!", se empolgou uma cliente que marcou três amigas na postagem. "Que delícia!", respondeu outra. O packer mais barato, para dar volume, custa R$ 60 e tem 10 centímetros. Quatro centímetros maior e acumulando cinco finalidades, o mais caro está à venda por R$ 285.
Stevan explica que os packers são usados no dia a dia, soltos na cueca, para funções como volume, urinar em pé e masturbação, mas não aderem à pele "é necessário o uso de cinta para relações sexuais". Para que o artigo tenha uma temperatura mais próxima à humana, o truque são os sprays que esquentam, também vendidos na loja, que oferece ainda o "pump", uma bomba de sucção que promete aumentar o tamanho do clitóris.
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