Topo

Morango

"Devo terminar meu casamento para assumir minha bissexualidade?"

Universa

03/07/2019 04h22

(iStock)

"Sou casada há mais de dez anos e sempre tive atração por mulheres; mas deixava isso de lado por estar em um relacionamento com um homem. Um dia, propus ao meu marido que fizéssemos um ménage, porque assim eu ficaria com uma mulher e ele curtiria também. Ele rechaçou totalmente a ideia, de um jeito até agressivo. Desde então, há seis meses, saio com mulheres ou casais que conheço pelo Tinder. Passei a me definir como bissexual, porque realmente me interesso pelos dois gêneros, com uma preferência maior por mulheres. A questão é que comecei a sentir uma culpa enorme por estar traindo meu marido, e ele anda bem desconfiado de mim", desabafa Júlia* em um e-mail que me tirou o fôlego.

"Apesar de não ser completamente feliz no meu relacionamento, também não posso dizer que sou infeliz. Meu marido me trata bem, é romântico, carinhoso, me dá uma ótima estrutura, e juntos formamos uma família com filhos. Não sei se eu seria mais feliz se me separasse. Eu não gosto de relacionamentos monogâmicos e me vejo facilmente em um relacionamento aberto, mas será que compensa abrir mão de um casamento tão sólido para viver aventuras que podem nem me fazer feliz? Tudo o que eu queria é que meu marido fosse liberal como eu e embarcasse comigo em relacionamentos com outras mulheres."

Veja também:

Bissexuais, elas gostam de dominar mulheres e ser submissas aos homens

Quer ter um relacionamento aberto? Leia estas histórias antes

"Casada, exibicionista, adepta de swing e cam girl"

"Ser ou não ser? Eis a questão"

Aos 30 anos de idade, dividida entre a culpa e o desejo, Júlia me pediu um conselho: "devo terminar meu atual relacionamento e assumir para o mundo a minha bissexualidade; ou apenas viver meu casamento e aquietar o facho?". "Ser ou não ser?"  é uma questão que aflige a humanidade há séculos. Mais que uma dúvida entre viver ou morrer, como propôs Shakespeare em "Hamlet", uma das tragédias mais populares de todos os tempos, escrita por volta do ano 1600, a célebre frase abrange um questionamento existencial amplo, cujo sentido também pode ser o de posicionar-se – ou não – diante de um impasse.

Fernanda Fonseca, que é psicóloga e coach LGBT, explica que a monogamia é uma convenção social, mas alerta que nem todas as pessoas conseguiriam ser felizes em um relacionamento aberto. "O conflito entre assumir ou não a bissexualidade surgiu porque há um parceiro envolvido, um vínculo de afeto, mas ao mesmo tempo ela descobriu que quer (e já está vivendo) outras coisas, mas o marido, não. Será mesmo que o relacionamento iria melhorar caso abrissem a relação?"

Escolha e renúncia

Para quem enfrenta o mesmo dilema, a psicóloga sugere algumas reflexões. "É importante pensar no que mais se deseja e se busca atualmente, levar em conta as opiniões e os sentimentos do parceiro, analisar o que as experiências fora do casamento estão provocando e, afinal, ponderar as razões para manter a relação. Estas e outras observações são importantes para uma escolha mais segura, consciente e madura. Nenhuma decisão deve ser tomada às pressas, baseada em qualquer tipo de moralismo, e nem precisa ser permanente. Não é uma situação fácil, mas muitas vezes na vida, ao escolhermos algo, precisamos renunciar a outras coisas."

*Nome fictício para preservar a identidade da entrevistada.

Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!