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Mundo 'sugar daddy': "Homens querem sexo; mulheres, conforto e status"

Universa

04/09/2019 04h00

Imagens de tirar o fôlego e algumas frases motivacionais seduzem os internautas (Imagem: Reprodução/Instagram/Meu Patrocínio)

Viagens incríveis a lugares paradisíacos, uma vida de luxo e sofisticação, tudo isso sem muito esforço e a um clique. Seria possível? Há quem venda essa ideia, e há quem a compre. Pioneiro no segmento 'sugar' no Brasil, o site de relacionamentos "Meu Patrocínio" existe há quase quatro anos e afirma ter mais de 2 milhões de usuários. "É um lugar para gente que partilha dos mesmos valores que envolvem o estilo de vida sugar: honestidade e transparência. Sejam homens ricos ou lindas mulheres, nossos membros sabem quem são, o que querem e aquilo que merecem (o melhor que o mundo tem a oferecer)", diz o site em sua apresentação. Em outras palavras, a plataforma se propõe a conectar pessoas jovens e bonitas, ou "babies", a homens e mulheres maduros e ricos, "daddies" e "mommies".

Com fotos que parecem ter saído de revistas de moda, legendas como "Não se importe com o que vão pensar de você, faça o que quiser e procure apenas a sua felicidade" e tagueando as palavras "dinheiro", "elegância", "generosidade" e "lifestyle" no Instagram, o perfil oficial do "Meu Patrocínio" atrai internautas curiosos sobre esse estilo de vida, mas não muito dispostos a pagar as tarifas cobradas pelo site. Na teoria, o serviço é grátis, mas a plataforma diz trabalhar com uma longa fila de espera para novos membros – obstáculo que pode ser contornado após o pagamento de R$ 249 por uma aprovação imediata.

O preço da gentileza

Há um mês como "sugar baby", Bruna, de 18 anos, que mora em Nova Iguaçu (RJ), diz que a experiência está sendo melhor do que imaginava. "O relacionamento entre o daddy e a baby é algo que vai além. Muitos pensam que é prostituição, só que não tem nada a ver uma coisa com a outra. Um relacionamento convencional é uma troca. O relacionamento sugar é de agrados, mas se o baby se sentir confortável, ele pode, sim, se relacionar sexualmente. Nem sempre é necessário. Tem daddies que gostam de agradar, de mimar dando presentes, e nós, babies, não precisamos dar nada em troca além de uma conversa e um carinho", revela. Apesar de não ter se encontrado pessoalmente com um daddy, ela conta que já ganhou R$ 500 de presente.

Gabriela, 19, também está há na plataforma há pouco tempo, mas não teve a mesma "sorte" de Bruna. "Só tem fake. Eles ficam pedindo videochamada, foto pelada, vídeo, e é tudo menino novo. No site tem bastante gente de verdade, mas é muito difícil achar um que more aqui perto ou que tenha um papo que dure", queixa-se a mineira. "Gosto de viajar, de conhecer novas pessoas e também, claro, gosto de ser mimada com presentes e ajudas. Cem por cento das mulheres desse Instagram e do aplicativo querem dinheiro, não adianta falar que não. Todas estão atrás de alguém que dê lindas viagens, roupas, joias, entre outras coisas. E por que não? Eu dou o que ele precisa, que é carinho, atenção e uma boa noite de prazer, e eles me dão uma ajudinha financeira. Isso não é cem por cento prostituição."

"Isso não é cem por cento prostituição", defende Gabriela (Foto: Arquivo Pessoal)

"Confundem com prostituição, mas depende"

Sugar baby há dois anos, Max Silva, 25, é cabeleireiro, já teve três daddies e fez amizade com outros babies, a quem dá conselhos de irmão mais velho. "Muitos confundem ser baby com prostituição, mas tudo depende. Em 2018 eu conheci um gringo que mora em Barcelona, é empresário e trabalha com a família. Conversávamos sempre. Ele é um homem carente e muito carinhoso, e sempre dizia que tentaria vir até o final do ano (2018). Já me deu mimos e uma quantia em euros, mas acabou não vindo por causa da distância. Eu não pude ir conhecê-lo porque estava estudando. Nos falávamos diariamente como qualquer casal, cheios de planos e expectativas. Ligávamos a vídeochamada geralmente à tarde e conversávamos. Mandávamos áudio sem parar um para o outro. Ele falava 'hola mi guapo' toda manhã, sempre carinhoso. Acho que os gringos levam mais a sério isso."

"Entrei no site querendo encontrar alguém com uma condição financeira legal. Sempre brinco que sou rico no corpo de pobre", diverte-se Max (Foto: Arquivo Pessoal)

"Sexo e dinheiro são palavras proibidas em sites sugar"

Na Europa e nos Estados Unidos, sites sugar existem há mais de uma década. Por aqui desde 2015, o "Meu Patrocínio" foi o primeiro, mas não é o único no negócio. Numa busca rápida na internet aparecem "Universo Sugar", "Mundo Sugar", "Meu Sugar Daddy", "Quer Me Bancar" e até o estapafúrdio "Quanto Vale 25" (referência à idade média de mulheres que quer atrair), que espatifa a ideia do pote de açúcar de gentilezas logo de cara, numa botinada, na apresentação do site: "perdoem-nos os puritanos, mas o que eles (os homens) querem lá no fundo é sexo, e o que elas desejam é conforto e status. Todavia, as palavras sexo e dinheiro muitas vezes são proibidas em sites sugar. (…) Contudo, a propaganda (das mulheres) na maioria das vezes é enganosa. Abusam de ensaios sensuais com tanto Photoshop que transformam a pele da acompanhante em uma porcelana de luxo. Removem barriga, celulite, estrias e tatuagens, aumentam seios e bumbum, até que, ao encontrar a garota pessoalmente, ela é irreconhecível. Você lê no perfil 'ninfetinha de 20 anos', mas no programa percebe que ela deve beirar seus 40 de idade. Ou realizou o ensaio mais de dez anos atrás".

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Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!